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Desmate evitado entra na conta do IPCC
Pela primeira vez, painel da ONU olha os benefícios da redução das derrubadas florestais, atitude que favorece o Brasil
No curto prazo, fim do
desmatamento na região
das Américas pode evitar a
liberação de 550 milhões de
toneladas de gás carbônico
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A BANCOC
Uma das novidades do relatório que será apresentado
amanhã em Bancoc interessa
diretamente ao Brasil: pela primeira vez, o IPCC vai considerar a conservação de florestas e
o desmatamento evitado como
medidas de mitigação. E dá números: 550 milhões de toneladas de gás carbônico podem ser
cortadas a um custo baixo ao
reduzir o desmate só nas Américas do Sul e Central. A fatia do
leão, aqui, cabe à Amazônia.
"A mensagem do AR4 [novo
relatório do IPCC] é que, a curto prazo, os benefícios de mitigação de carbono a partir da redução do desmatamento são
maiores que os benefícios resultantes do reflorestamento",
disse à Folha Thelma Krug, secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente e membro do Conselho
do IPCC. "Isso porque o desmatamento é a fonte mais importante de emissões relacionada ao setor florestal."
Isso é importante para o Brasil por um lado, já que dois terços das emissões do país vêm
do desmatamento da floresta
amazônica. No relatório anterior do IPCC, de 2001, o chamado desmatamento evitado
ficou de fora, e também não entrou no Protocolo de Kyoto.
Um respaldo do painel do clima ao desmatamento evitado
vem a calhar para a proposta
brasileira, apresentada à Convenção do Clima, de criar um
fundo voluntário para compensar os países tropicais que reduzirem a perda de carbono de
suas florestas.
"A longo prazo, estratégias
voltadas para o manejo sustentável de florestas, com vistas à
manutenção ou ao aumento
dos estoques de carbono florestal, gerarão os maiores benefícios de mitigação", diz Krug.
Isso também interessa ao governo brasileiro, que quer usar
seus chamados distritos florestais sustentáveis na Amazônia
(nenhum deles implementado)
como trunfos.
Por outro lado, o texto do relatório do IPCC destaca a importância de mecanismos de
mercado para comercializar
-na forma de créditos- o carbono que deixa de ir para a atmosfera dessa maneira. E o
Brasil não quer nem ouvir falar
de um mercado para isso, pois,
segundo o governo, ele implicaria algum tipo de vigilância
internacional sobre a floresta
(para monitorar a preservação
e garantir o valor dos papéis).
Com autoridade de quem
participa do processo de Kyoto
desde o início, Roberto Schaeffer, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz
que a posição do governo vem
suavizando sobre esse tema.
"Uma coisa é o que o governo
pensa, outra é o que ele pode
falar", afirma.
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