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GEOLOGIA
Cientistas brasileiros e americanos já encontraram rastro de iceberg com 25 m e 300 milhões de anos em Sergipe
Grupo busca sinais de geleira no Nordeste
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de sete pesquisadores do Brasil e dos EUA irá neste
mês ao Nordeste em busca de algo
que pode parecer loucura: rastros
da passagem de geleiras pela região. Mas não é: já foi encontrado
um sulco na rocha com 25 m de
comprimento revelando a passagem de um iceberg perto de Curituba (SE) há 300 milhões de anos,
como relatou a última edição da
revista "Pesquisa Fapesp".
Os geólogos querem agora
achar estruturas semelhantes em
outros locais da região e com isso
ter uma noção mais exata da área
das geleiras em eras glaciais passadas. "São áreas enormes. Essa
glaciação foi uma coisa fantástica", diz Antonio Carlos Rocha
Campos, do Instituto de Geociências da USP e coordenador do
Grupo de Estudo sobre Sedimentação Glacial. Participam do também estudo cientistas da Unesp e
da Universidade de Minnesota.
A glaciação do iceberg de Curituba ocorreu no final do Período
Carbonífero e início do Permiano.
Seu clímax foi há 300 milhões de
anos, mas a imprecisão ainda é
grande, diz Rocha Campos -não
se sabe se a glaciação durou 15 milhões ou 30 milhões de anos.
Outros pontos do país também
foram afetados na época. Rochas
de origem glacial são comumente
encontradas na bacia sedimentar
do rio Paraná, a área mais estudada. Outras evidências foram encontradas na bacia dos Parecis,
em Mato Grosso e Rondônia, e no
noroeste de Minas Gerais.
"Em seu conjunto, as ocorrências conhecidas indicam que a superfície terrestre afetada direta ou
indiretamente pelas massas de gelo, durante o Carbonífero e o Permiano, abrange mais de dois terços do território nacional", afirma
Rocha Campos. Um mapa preparado pelo grupo mostra o alcance
estimado dessas geleiras (veja
mapa à esq.), mas foi feito de modo "conservador", isto é, usando
apenas os pontos para os quais
existem evidências, sem especular
onde mais poderia haver gelo.
Há 300 milhões de anos o Brasil
estava ligado à África, fazendo
parte do grande continente chamado Gonduana que também incluía Arábia, Índia, Antártida e
Austrália. Os achados geológicos
nas áreas da África que eram então contíguas ao Brasil, como a
Namíbia e o Gabão, também têm
revelado evidências da glaciação
do Carbonífero-Permiano.
Não foi apenas uma vez que
parte do Brasil foi coberta por gelo. Existem registros de quatro
glaciações anteriores, menos extensas em área e em duração. Mas
em uma delas, ocorrida no início
do período Siluriano (430 milhões
de anos atrás), havia gelo até na
região amazônica.
As geleiras não constituíam
uma massa de gelo uniforme, mas
diversas "línguas" de gelo entrando pelo território. As áreas em
torno eram afetadas, criando ambientes que lembram por exemplo a Islândia, com vegetação de
árvores pequenas e arbustos.
Há 300 milhões de anos, o território brasileiro ficava mais de
3.000 km ao sul.
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