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São Paulo, terça-feira, 03 de junho de 2003

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GEOLOGIA

Cientistas brasileiros e americanos já encontraram rastro de iceberg com 25 m e 300 milhões de anos em Sergipe

Grupo busca sinais de geleira no Nordeste

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de sete pesquisadores do Brasil e dos EUA irá neste mês ao Nordeste em busca de algo que pode parecer loucura: rastros da passagem de geleiras pela região. Mas não é: já foi encontrado um sulco na rocha com 25 m de comprimento revelando a passagem de um iceberg perto de Curituba (SE) há 300 milhões de anos, como relatou a última edição da revista "Pesquisa Fapesp".
Os geólogos querem agora achar estruturas semelhantes em outros locais da região e com isso ter uma noção mais exata da área das geleiras em eras glaciais passadas. "São áreas enormes. Essa glaciação foi uma coisa fantástica", diz Antonio Carlos Rocha Campos, do Instituto de Geociências da USP e coordenador do Grupo de Estudo sobre Sedimentação Glacial. Participam do também estudo cientistas da Unesp e da Universidade de Minnesota.
A glaciação do iceberg de Curituba ocorreu no final do Período Carbonífero e início do Permiano. Seu clímax foi há 300 milhões de anos, mas a imprecisão ainda é grande, diz Rocha Campos -não se sabe se a glaciação durou 15 milhões ou 30 milhões de anos.
Outros pontos do país também foram afetados na época. Rochas de origem glacial são comumente encontradas na bacia sedimentar do rio Paraná, a área mais estudada. Outras evidências foram encontradas na bacia dos Parecis, em Mato Grosso e Rondônia, e no noroeste de Minas Gerais.
"Em seu conjunto, as ocorrências conhecidas indicam que a superfície terrestre afetada direta ou indiretamente pelas massas de gelo, durante o Carbonífero e o Permiano, abrange mais de dois terços do território nacional", afirma Rocha Campos. Um mapa preparado pelo grupo mostra o alcance estimado dessas geleiras (veja mapa à esq.), mas foi feito de modo "conservador", isto é, usando apenas os pontos para os quais existem evidências, sem especular onde mais poderia haver gelo.
Há 300 milhões de anos o Brasil estava ligado à África, fazendo parte do grande continente chamado Gonduana que também incluía Arábia, Índia, Antártida e Austrália. Os achados geológicos nas áreas da África que eram então contíguas ao Brasil, como a Namíbia e o Gabão, também têm revelado evidências da glaciação do Carbonífero-Permiano.
Não foi apenas uma vez que parte do Brasil foi coberta por gelo. Existem registros de quatro glaciações anteriores, menos extensas em área e em duração. Mas em uma delas, ocorrida no início do período Siluriano (430 milhões de anos atrás), havia gelo até na região amazônica.
As geleiras não constituíam uma massa de gelo uniforme, mas diversas "línguas" de gelo entrando pelo território. As áreas em torno eram afetadas, criando ambientes que lembram por exemplo a Islândia, com vegetação de árvores pequenas e arbustos.
Há 300 milhões de anos, o território brasileiro ficava mais de 3.000 km ao sul.


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