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AMBIENTE
Medida emergencial integra pacote de ações para combater desmatamento, que foi de 25 mil km2 em 2001-2002
Governo libera R$ 20 mi para a Amazônia
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal vai liberar
emergencialmente R$ 20 milhões
ao Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) com o objetivo de realizar operações de fiscalização em três Estados da região
conhecida como Arco do Desflorestamento, para tentar conter o
aumento da área devastada na região amazônica.
A medida faz parte de um pacote de ações, anunciado ontem no
Palácio do Planalto, após mais de
três horas de reunião entre cinco
ministros e representantes de outros ministérios.
A divulgação das ações foi motivada por dados de satélite do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais), divulgados na semana
passada, que estimam crescimento de 40% do desmatamento na
Amazônia no biênio 2001-2002
em relação ao período anterior.
Isso significa que a área desmatada na região passou de 18.166 km2
para 25.476 km2.
Esse é o segundo desmatamento mais alto já registrado na Amazônia desde que o Inpe começou a
medi-lo. Fica atrás apenas do período 1994-1995, quando a área
devastada foi de 29.059 km2.
Além de 14 operações de fiscalização no Pará, norte de Mato
Grosso e Rondônia, o governo vai
criar um sistema único de licenciamento de propriedades rurais
e fará uma revisão da delegação
de competências do Ministério do
Meio Ambiente, especialmente as
relacionadas a autorizações de
desmatamento, nos Estados da
Amazônia Legal. Em Estados como Mato Grosso, campeão de devastação, o controle sobre o desmatamento cabe ao governo estadual, não ao Ibama.
Também será formado um grupo de trabalho interministerial
que estudará medidas de controle
do desmatamento e incentivo a
atividades sustentáveis na região.
Complexidade
"Não queremos simplificar uma
questão tão complexa. Durante
quase toda a vida nos deparamos
com a situação agravante de desflorestamento da Amazônia. Exatamente por não ter recebido a
devida atenção nem em relação
ao diagnóstico nem às medidas a
serem adotadas talvez não tenhamos tido uma resposta", afirmou
ontem a ministra Marina Silva
(Meio Ambiente).
Segundo ela, projeções iniciais
indicam que a situação neste ano
não será diferente, ou seja, o desmatamento deve ainda apresentar crescimento. "É um processo
em alta velocidade que não vamos
conseguir reverter de uma hora
para outra", disse.
Segundo o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, a partir deste ano todos os projetos que
receberem incentivo fiscal dos
fundos constitucionais deverão
ter preocupação ambiental e com
o desenvolvimento sustentável.
O critério também vai nortear
projetos de assentamento desenvolvidos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, segundo
o ministro Miguel Rossetto.
Além de Marina, Ciro Gomes e
Rossetto, participaram da reunião os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Roberto Rodrigues
(Agricultura), além de representantes da Ciência e Tecnologia.
O levantamento do Inpe é baseado em 50 "cenas" ou imagens
de satélite da Amazônia Legal.
A divulgação é feita anualmente, e as projeções costumam ser
ajustadas posteriormente. Por isso, o instituto também apontou
na semana passada um crescimento de 15% na área originalmente estimada no biênio anterior (2000-2001). Ou seja, subiu de
15.787 km2 para os atuais 18.166
km2.
A partir de 2004, os dados serão
divulgados mensalmente, na internet (www.obt.inpe.br)
Os dados do último período vão
contra a expectativa que havia no
governo FHC de que a tendência
para este ano seria de queda.
A maior parte da área desmatada (75%) está concentrada na região conhecida como Arco do
Desflorestamento. A área engloba
o leste e o sul da Amazônia, incluindo 60 municípios de Rondônia, Mato Grosso e Pará.
Esses três Estados concentram
atividades agrícolas, como plantação de soja e criação de gado,
que devastam as florestas.
Segundo o Greenpeace, a devastação escapou do Arco do Desflorestamento e se moveu para o
chamado "Arco da Grilagem",
que inclui regiões do Amazonas e
do Pará. Para ONG, o governo deve adotar o "Desmatamento Zero" -um programa que, como o
Fome Zero, ataque a questão a
longo prazo.
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