São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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Ricos pedem fim de subsídios para agricultura; Canadá já apóia Kyoto

DO ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO

O encontro de chefes de Estado na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +10), em Johannesburgo, começou ontem com promessas, mea-culpas e um apelo inesperado: países desenvolvidos pediram o fim dos subsídios agrícolas concedidos por eles mesmos.
Líderes da Alemanha, Canadá e Reino Unido, além da União Européia, foram unânimes em reconhecer que os subsídios à agricultura -calculados em mais de US$ 300 bilhões por ano- são um dos principais entraves ao acesso do Terceiro Mundo aos mercados e, por consequência, à globalização da economia que eles, os ricos, tanto defendem.
"Nós devemos abrir os mercados. E isso inclui abrir o mercado agrícola dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento", disse o premiê britânico, Tony Blair.
O chanceler da Alemanha, Gerhard Schröder, foi na mesma linha: "O acesso ao mercado global é tão importante [para os países subdesenvolvidos" quanto a ajuda externa. Subsídios que distorcem o mercado devem ser eliminados", disse, sob aplausos.
Numa outra declaração inesperada, o premiê do Canadá, Jean Chrétien, anunciou perante a ONU a decisão de levar o Protocolo de Kyoto para ratificação no Parlamento até o final deste ano. O Canadá, juntamente com a Austrália e os EUA, havia decidido não aderir ao acordo contra os gases de efeito estufa.

Coragem
A última e mais importante etapa da Rio +10 começou cedo e sob um forte esquema de segurança. Na véspera, máquinas de raios X foram instaladas até nas calçadas das ruas que dão acesso ao Sandton Centre, o centro de convenções que abriga a cúpula.
Espera-se que os chefes de Estado consigam salvar de último minuto a conferência, cujas negociações pelos diplomatas não conseguiram produzir nenhum acordo forte o suficiente para a implementação da Agenda 21.
Quando o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, começou seu discurso na abertura da reunião, por exemplo, ainda não havia consenso sobre a questão da energia, uma das prioridades da cúpula. Negociações entre os ministros do Ambiente para decidir o tema atravessaram a noite e foram interrompidas às 3h.
Annan pediu "coragem" aos chefes de Estado para erradicar a pobreza e combater a destruição ambiental. "Que não haja disfarces sobre o perigoso estado em que se encontra a Terra, e que ninguém finja que a conservação é cara demais", disse.
O presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, anfitrião da Rio +10, disse que o encontro deveria "definir metas e alvos concretos" para a erradicação da pobreza e proteção ambiental.
Jacques Chirac foi aplaudido ao defender que as responsabilidades coletivas sobre o ambiente devem recair antes sobre os países desenvolvidos. "Se todos tiverem os níveis de consumo dos países do Norte, precisaremos de mais dois planetas." O presidente francês disse, ainda, que era necessária a criação de uma Organização Mundial do Ambiente.
Os líderes reunidos ontem em Johannesburgo também foram unânimes em exigir a ratificação do Protocolo de Kyoto.
Schröder, que está fazendo das enchentes da Europa Central sua principal plataforma de campanha, disse ter ocorrido um "aumento dramático" nas condições meteorológicas severas nos últimos anos e pediu que o protocolo entrasse em vigor o mais rápido possível, ainda neste ano.
A declaração de Chrétien de que abriria um processo consultivo para saber como o Canadá pode cumprir suas metas de redução de gases-estufa (em especial o CO2) e que, então, levaria o acordo climático ao Parlamento, torna essa possibilidade mais real. (CA)


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