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Noção de tempo afeta
velocidade do cérebro
GABRIELA MICHELOTTI
da Revista da Folha
Cientistas descobriram que a velocidade com que o cérebro compreende uma frase é alterada por
palavras com significado de tempo, como "antes" e "depois".
O estudo pode facilitar a compreensão do papel dos neurônios
no funcionamento da consciência,
afirma Zsolt Kovács, professor de
neurociência computacional da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisa apresenta evidências
de que o conceito abstrato de tempo é processado no lobo frontal, a
parte do cérebro mais diferenciada entre primatas e os demais animais, situada na região da fronte.
O estudo foi feito por cientistas
da Universidade da Califórnia, em
San Diego e em La Jolla (EUA), e
publicado na edição de hoje da revista "Nature".
Eles mediram com instrumentos
a atividade cerebral de 24 voluntários que teriam de responder
"verdadeiro" ou "falso" a 120
frases, 60 iniciadas com a palavra
"antes" e 60 com "depois".
Um dos exemplos de frases usados no estudo foi "Antes de o
psicólogo ter entregado o artigo, o
jornal mudou sua política."
Nesse exemplo, as frases com
"depois", que seguem ordem
temporal direta, foram processadas mais depressa que as iniciadas
por "antes".
Quando a frase era colocada na
ordem cronológica invertida, com
a palavra "antes", a sentença requeria um processamento maior
do lobo frontal para ser colocada
na ordem cronológica correta.
O tempo de resposta cerebral para os dois tipos de frase variou em
até 300 milisegundos (milésimos
de segundos).
"Outros estudos têm mostrado evidência de que conceitos abstratos, como quantidade e tempo,
são processados no lobo frontal",
diz o neurofisiologista Luiz Eugênio Mello, 40, da Universidade Federal do Estado de São Paulo
(Unifesp).
Segundo Mello, as recentes técnicas não-invasivas de determinação da atividade cerebral permitiram identificar com maior precisão o caminho da informação abstrata no cérebro.
"O lobo frontal parece ser o
ponto convergente dessas pesquisas", afirma Mello.
O estudo também apontou que o
uso da memória de trabalho -de
curto prazo, que não armazena a
informação nas ligações cerebrais-foi maior nas pessoas que
apresentaram maior grau de entendimento.
"Acredita-se que a percepção
subjetiva de tempo esteja ligada à
consciência", disse Kovács.
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