São Paulo, quinta, 3 de setembro de 1998

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Noção de tempo afeta velocidade do cérebro

GABRIELA MICHELOTTI
da Revista da Folha

Cientistas descobriram que a velocidade com que o cérebro compreende uma frase é alterada por palavras com significado de tempo, como "antes" e "depois".
O estudo pode facilitar a compreensão do papel dos neurônios no funcionamento da consciência, afirma Zsolt Kovács, professor de neurociência computacional da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisa apresenta evidências de que o conceito abstrato de tempo é processado no lobo frontal, a parte do cérebro mais diferenciada entre primatas e os demais animais, situada na região da fronte.
O estudo foi feito por cientistas da Universidade da Califórnia, em San Diego e em La Jolla (EUA), e publicado na edição de hoje da revista "Nature".
Eles mediram com instrumentos a atividade cerebral de 24 voluntários que teriam de responder "verdadeiro" ou "falso" a 120 frases, 60 iniciadas com a palavra "antes" e 60 com "depois".
Um dos exemplos de frases usados no estudo foi "Antes de o psicólogo ter entregado o artigo, o jornal mudou sua política."
Nesse exemplo, as frases com "depois", que seguem ordem temporal direta, foram processadas mais depressa que as iniciadas por "antes".
Quando a frase era colocada na ordem cronológica invertida, com a palavra "antes", a sentença requeria um processamento maior do lobo frontal para ser colocada na ordem cronológica correta.
O tempo de resposta cerebral para os dois tipos de frase variou em até 300 milisegundos (milésimos de segundos).
"Outros estudos têm mostrado evidência de que conceitos abstratos, como quantidade e tempo, são processados no lobo frontal", diz o neurofisiologista Luiz Eugênio Mello, 40, da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp).
Segundo Mello, as recentes técnicas não-invasivas de determinação da atividade cerebral permitiram identificar com maior precisão o caminho da informação abstrata no cérebro.
"O lobo frontal parece ser o ponto convergente dessas pesquisas", afirma Mello.
O estudo também apontou que o uso da memória de trabalho -de curto prazo, que não armazena a informação nas ligações cerebrais-foi maior nas pessoas que apresentaram maior grau de entendimento.
"Acredita-se que a percepção subjetiva de tempo esteja ligada à consciência", disse Kovács.



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