São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2004

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TECNOLOGIA

Aparelho com defeito transmitiu em freqüência usada em situações de emergência, que deve mudar em 2009

TV pifa nos EUA e põe satélites em alerta

TOM ZELLER JR.
DO "NEW YORK TIMES"

Pode ser que muitas pessoas, encarando o brilho emitido por suas televisões durante a madrugada, precisem de resgate. Poucas, porém, esperariam que uma televisão clamasse por ajuda.
No começo do mês passado, a televisão de Chris van Rossman silenciosamente apresentou um defeito, emitindo um sinal que ativou dois satélites, alertou equipes na Força Aérea em Langley, na Virgínia (EUA) e levou um grupo de policiais a baterem na porta do seu apartamento.
Ele foi aconselhado a desligar a televisão para evitar o pagamento diário de uma multa de US$ 10 mil por alarme falso. A Toshiba, fabricante do aparelho, está substituindo o sistema defeituoso.
A televisão -como geladeiras e aspiradores de pó- fazia apenas o que se espera de equipamentos elétricos: emitir energia. Mas alguns circuitos eletrônicos simplesmente passaram a gerar uma freqüência -121.5 megahertz- reservada a sinais internacionais de emergência.
A cada ano, milhares de sinais direcionam equipes de resgate pelo mundo. Com freqüência, os sinais levam não a uma emergência, mas a uma ativação acidental em avião ou navio, ou ao mau funcionamento de um aparelho.
Incidentes como o de Van Rossman têm atrapalhado o trabalho de busca e resgate que se baseia na freqüência de 121,5 MHz.
Especialistas dizem que, em 2009, quando as agências de resgate pararem de consultar a antiga freqüência, o objetivo é ter todos os sistemas de alerta emitindo um sinal digital em 406 MHz.
Embora o novo sistema não seja imune a alarmes falsos, seu sinal será distinguível da trepidação eletromagnética de um forno de pizza (sim, já aconteceu). "Vemos isso umas duas vezes por ano", disse o major Allan Knox, do Centro de Coordenação de Resgates da Força Aérea dos EUA.
Em 2000, por exemplo, o sistema de emergência começou a receber semanalmente chamadas de um estádio no Arkansas, depois que um novo placar eletrônico foi inaugurado. Seu sistema de processamento de vídeo, aparentemente, estava emitindo sinais de 121,5 MHz.
Agências internacionais tentam prevenir o problema e garantir que tudo, seja uma babá eletrônica, uma estação de rádio ou um alerta, esteja nas faixas corretas. Contudo, a quantidade crescente de eletrônicos aumenta as chances de vazamento de sinais.
"Não me surpreende que um aparelho de TV emita sinais em alguma banda que não deveria", afirma Peter B. Ladkin, professor de ciências da computação na Universidade de Bielefeld, na Alemanha, que estuda interferências de sinais. "Isso acontece toda hora com aparelhos pessoais."
Antes da década de 1970, encontrar um avião caído era como buscar uma agulha em um palheiro. Depois que um avião com dois políticos americanos sumiu no Alasca, o governo federal pediu que todos os aviões civis no país carregassem localizadores que emitissem sinais de emergência. Os localizadores iniciais foram programados para 121,5 MHz, freqüência usada por aviadores.
O sistema funcionava bem, mas o lançamento de satélites na década de 1980 tornou o sistema global. Antecipando a situação, EUA, Canadá, França e URSS formaram em 1979 uma organização chamada de Cospas-Sarsat e adotaram a freqüência de 406 MHz.
Com o sinal, é possível enviar um identificador digital que acelera o resgate e elimina alarmes falsos de, digamos, luzes de Natal.
A freqüência de rádio mais antiga, no entanto, ainda é muito usada e a Cospas-Sarsat monitora globalmente os dois canais. Mas o grupo tenta popularizar a nova freqüência e avisa que, a partir de fevereiro de 2009, nenhuma equipe vai responder o chamado feito pela outra freqüência.
Um fator que atrapalha mudança é o preço da aparelhagem nova: cerca de US$ 1.500, contra US$ 500 dos sistemas antigos.
A Força Aérea americana estima que 134 vidas a mais e milhões de dólares seriam salvos a cada ano se todos adotassem a freqüência de 406 MHz.
Não que o identificador digital elimine alarmes falsos. Apenas nos EUA, em 2003, 369 (ou 3%) de mais de 12 mil sinais errados emitidos na antiga freqüência provaram ser emergências reais. O índice não é muito melhor com a aparelhagem nova: de mais de 3.000 sinais captados em 406 MHz no ano passado, apenas 167 (ou 5%) eram situações de perigo.


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