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TECNOLOGIA
Aparelho com defeito transmitiu em freqüência usada em situações de emergência, que deve mudar em 2009
TV pifa nos EUA e põe satélites em alerta
TOM ZELLER JR.
DO "NEW YORK TIMES"
Pode ser que muitas pessoas,
encarando o brilho emitido por
suas televisões durante a madrugada, precisem de resgate. Poucas, porém, esperariam que uma
televisão clamasse por ajuda.
No começo do mês passado, a
televisão de Chris van Rossman
silenciosamente apresentou um
defeito, emitindo um sinal que
ativou dois satélites, alertou equipes na Força Aérea em Langley,
na Virgínia (EUA) e levou um
grupo de policiais a baterem na
porta do seu apartamento.
Ele foi aconselhado a desligar a
televisão para evitar o pagamento
diário de uma multa de US$ 10 mil
por alarme falso. A Toshiba, fabricante do aparelho, está substituindo o sistema defeituoso.
A televisão -como geladeiras e
aspiradores de pó- fazia apenas
o que se espera de equipamentos
elétricos: emitir energia. Mas alguns circuitos eletrônicos simplesmente passaram a gerar uma
freqüência -121.5 megahertz-
reservada a sinais internacionais
de emergência.
A cada ano, milhares de sinais
direcionam equipes de resgate pelo mundo. Com freqüência, os sinais levam não a uma emergência, mas a uma ativação acidental
em avião ou navio, ou ao mau
funcionamento de um aparelho.
Incidentes como o de Van Rossman têm atrapalhado o trabalho
de busca e resgate que se baseia na
freqüência de 121,5 MHz.
Especialistas dizem que, em
2009, quando as agências de resgate pararem de consultar a antiga freqüência, o objetivo é ter todos os sistemas de alerta emitindo
um sinal digital em 406 MHz.
Embora o novo sistema não seja
imune a alarmes falsos, seu sinal
será distinguível da trepidação
eletromagnética de um forno de
pizza (sim, já aconteceu). "Vemos
isso umas duas vezes por ano",
disse o major Allan Knox, do Centro de Coordenação de Resgates
da Força Aérea dos EUA.
Em 2000, por exemplo, o sistema de emergência começou a receber semanalmente chamadas
de um estádio no Arkansas, depois que um novo placar eletrônico foi inaugurado. Seu sistema de
processamento de vídeo, aparentemente, estava emitindo sinais
de 121,5 MHz.
Agências internacionais tentam
prevenir o problema e garantir
que tudo, seja uma babá eletrônica, uma estação de rádio ou um
alerta, esteja nas faixas corretas.
Contudo, a quantidade crescente
de eletrônicos aumenta as chances de vazamento de sinais.
"Não me surpreende que um
aparelho de TV emita sinais em
alguma banda que não deveria",
afirma Peter B. Ladkin, professor
de ciências da computação na
Universidade de Bielefeld, na Alemanha, que estuda interferências
de sinais. "Isso acontece toda hora
com aparelhos pessoais."
Antes da década de 1970, encontrar um avião caído era como buscar uma agulha em um palheiro.
Depois que um avião com dois
políticos americanos sumiu no
Alasca, o governo federal pediu
que todos os aviões civis no país
carregassem localizadores que
emitissem sinais de emergência.
Os localizadores iniciais foram
programados para 121,5 MHz,
freqüência usada por aviadores.
O sistema funcionava bem, mas
o lançamento de satélites na década de 1980 tornou o sistema global. Antecipando a situação, EUA,
Canadá, França e URSS formaram em 1979 uma organização
chamada de Cospas-Sarsat e adotaram a freqüência de 406 MHz.
Com o sinal, é possível enviar
um identificador digital que acelera o resgate e elimina alarmes
falsos de, digamos, luzes de Natal.
A freqüência de rádio mais antiga, no entanto, ainda é muito usada e a Cospas-Sarsat monitora
globalmente os dois canais. Mas o
grupo tenta popularizar a nova
freqüência e avisa que, a partir de
fevereiro de 2009, nenhuma equipe vai responder o chamado feito
pela outra freqüência.
Um fator que atrapalha mudança é o preço da aparelhagem nova:
cerca de US$ 1.500, contra US$
500 dos sistemas antigos.
A Força Aérea americana estima que 134 vidas a mais e milhões
de dólares seriam salvos a cada
ano se todos adotassem a freqüência de 406 MHz.
Não que o identificador digital
elimine alarmes falsos. Apenas
nos EUA, em 2003, 369 (ou 3%)
de mais de 12 mil sinais errados
emitidos na antiga freqüência
provaram ser emergências reais.
O índice não é muito melhor com
a aparelhagem nova: de mais de
3.000 sinais captados em 406
MHz no ano passado, apenas 167
(ou 5%) eram situações de perigo.
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