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Plano detalha o custo para zerar o desmatamento
Manter a floresta amazônica em pé por 30 anos custaria US$ 257 bi, diz estudo
No dia da abertura da
Conferência do Clima, em
Bali, cientistas mostram
como o mercado de carbono
pode ajudar na preservação
Fernando Donasci - 17.ago.2004/Folha Imagem
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Em Mato Grosso, áreas preservadas cercadas pela agricultura |
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Zerar o desmatamento da
Amazônia em dez anos e manter a situação sob controle por
mais vinte custaria US$ 257 bilhões, estima um relatório divulgado hoje por cientistas brasileiros e americanos. Apesar
de a cifra parecer astronômica,
ela está dentro de uma ordem
de grandeza que pode ser bancada por um acordo internacional que compense o Brasil por
preservar suas florestas.
Para chegar a esse valor, os
cientistas calcularam o chamado "custo de oportunidade" de
deixar de lucrar com o desmatamento. Para cada região amazônica, os pesquisadores liderados por Daniel Nepstad, do
Centro de Pesquisa de Woods
Hole (EUA), calcularam qual é
a atividade econômica mais
rentável e estimaram os lucros
para o período. Dentro da proposta, um pecuarista que comprasse uma propriedade e quisesse desmatar 20% dela -o limite máximo permitido por lei
na Amazônia- receberia um
valor equivalente ao lucro para
deixar toda a mata em pé.
"Não é uma coisa relacionada
a dar dinheiro para quem desmatou muito, e ilegalmente,
para parar de desmatar agora",
explica Paulo Moutinho, diretor de pesquisas do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia), que também assina o relatório.
O que os pesquisadores fizeram pela primeira vez foi um
mapa dos custos de oportunidade na Amazônia, mostrando
onde ele é mais caro e onde ele
é mais barato. O trabalho revelou que apenas 6% das terras
preservadas concentram cerca
da metade de todo o custo de
oportunidade na Amazônia.
"O valor é baixo em praticamente 90% [das terras], principalmente aquelas para pecuária, porque têm uma rentabilidade muito baixa", afirma
Moutinho. "Nas áreas altamente propícias à soja, com terreno
plano, clima bem estabelecido,
solo com características especificas para plantio do grão, seria
preciso compensar muito mais
para o proprietário deixar de
ter atração por derrubar legalmente a floresta e plantar soja.
Mas essas áreas são muito pequenas na Amazônia."
Pela proposta dos cientistas,
a compensação aos proprietários de terra que abrirem mão
da sua cota legal de desmatamento viria de um fundo criado
especialmente para isso. E o
plano propõe a criação de outros dois fundos: um para compensar povos da floresta que já
preservam as áreas que ocupam, e outro para fortalecer a
presença do governo na região,
única forma de combater o desmatamento ilegal.
Bolsa-floresta
O fundo voltado a proprietários de terras, na verdade, seria
o menor dos três. "A maior parte do recurso iria para os povos
da floresta, que protegem mais
de 40% da Amazônia em unidades de conservação, reservas
extrativistas e terras indígenas", explica Moutinho. "O fundo governamental serviria para
várias coisas, desde pagar programas de bolsa-floresta até investir na saúde de populações
rurais, assistência técnica até
políticas publicas. Seria um
fundo para aumentar a governança, colocar o estado dentro
da Amazônia e fortalecer sua
presença lá."
Mas de onde surgiriam esses
US$ 257 bilhões? Esse dinheiro, dizem os pesquisadores, pode vir do mercado de carbono
criado pelo Protocolo de Kyoto
para combate ao aquecimento
global. No caso da Amazônia,
reter os 47 bilhões de toneladas
de carbono custaria cerca US$
5,50 por tonelada.
O problema é que Kyoto, o
acordo que está em vigor até
2012, não considera o desmatamento evitado passível de inclusão nas negociações. E não é
à toa que o relatório do Woods
Hole está sendo divulgado hoje,
justamente na abertura da
COP-13, a Décima Terceira
Conferência das Partes da Convenção do Clima, em Bali.
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