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São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003

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COLUMBIA

Parceiros da Estação Espacial Internacional são instruídos a seguir trabalhando segundo o cronograma original

ISS sofre maior abalo, mas não deve parar

Tom Eckert/AP - Mike Nelson/France Presse - Christine Diamond/AP
Sola de uma bota (à esq.), restos de pastilhas de dissipação de calor usadas no Columbia e um capacete foram achados no Texas


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A perda do ônibus espacial Columbia produziu a maior crise na história do programa de construção da ISS (Estação Espacial Internacional), mas o maior projeto de cooperação internacional da história não vai parar. Pelo menos, é o que prometem os parceiros do consórcio de construção do complexo orbital.
"Sem dúvida, esse foi o pior problema que já tivemos", diz Manuel Valls, chefe do departamento de integração do programa de vôo espacial tripulado da ESA (Agência Espacial Européia). "Até agora não houve um impacto no projeto da estação, mas, dependendo de quanto tempo os ônibus espaciais permanecerem parados, deve haver mudanças."
A catástrofe do Columbia interrompeu, pelo menos temporariamente, toda a escala de vôos dos ônibus espaciais -cruciais para os próximos passos de montagem da estação, que tem custo final estimado em US$ 95 bilhões.
A principal preocupação dos administradores agora é não deixar a peteca cair. William Gerstenmaier, gerente do projeto na Nasa (agência espacial americana), promoveu ontem uma teleconferência com representantes de todas as nações envolvidas no consórcio (EUA, Rússia, Japão, Canadá, Brasil e países europeus).
Além de comunicar o estado das investigações do desastre do Columbia, Gerstenmaier instruiu todos os parceiros a prosseguirem trabalhando dentro do cronograma originalmente estipulado. "De fato, é o que estamos fazendo", diz Valls. "A primeira preocupação é descobrir como faremos a troca de tripulações da ISS [há três astronautas atualmente a bordo do complexo]. Ainda não decidimos nada. Tudo vai depender de quanto tempo a frota de ônibus espaciais vai ficar parada."
Valls acha muito improvável que o Atlantis possa ir à estação em março para fazer a troca de tripulações, como originalmente planejado. Isso deixaria a tarefa para uma nave russa Soyuz. A nave atualmente atracada à estação só poderá servir de veículo de retorno para o trio até maio. Os suprimentos, que devem chegar hoje ao complexo num veículo Progress, duram até junho.

Revisão de vôos
Embora os astronautas e cosmonautas agendados para os próximos vôos programados pelos russos sigam com seu treinamento, os lançamentos (o primeiro seria em abril) estão agora sob revisão, para levar em conta a paralisação dos ônibus espaciais.
Antes mesmo da explosão do Columbia, a ISS já estava passando por uma séria reavaliação, de modo a superar os problemas causados pelos cortes ao orçamento do programa feitos, no ano passado, na porção americana do complexo. Segundo a versão revisada do projeto feita pelos americanos para conter gastos, a estação concluída só poderia ter uma tripulação fixa de três. Entre os sistemas cancelados estariam o módulo de habitação e um veículo de emergência para o retorno da tripulação, com capacidade para quatro tripulantes.
As modificações foram recebidas com muitas críticas pelos parceiros do projeto, principalmente pela decisão unilateral da Nasa de fazer os cortes sem consultar os outros membros do consórcio. A manutenção da tripulação fixa em três (a capacidade máxima do veículo Soyuz) minaria os propósitos científicos do complexo, tornando-o praticamente inútil -uma situação inaceitável.
Os parceiros começaram a discutir alternativas. Após muito debate, um consenso finalmente emergiu. "Esse problema foi resolvido no fim do ano passado", diz Valls. "Em dezembro fizemos uma reunião e decidimos que a partir de 2006 a tripulação seria de seis, com duas naves Soyuz atracadas o tempo todo. Quando o novo veículo espacial americano ficasse pronto, a partir de 2010, a tripulação subiria para sete." Ainda segundo Valls, a crise não deve trazer retrocessos nessa decisão.

Participação brasileira
A participação brasileira na ISS também segue exatamente do jeito que estava, segundo o gerente do projeto no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Petrônio Noronha de Souza. O que não quer dizer muita coisa.
"O acidente com o Columbia não mudou nosso planejamento aqui", conta. "Continuamos esperando uma definição com a Nasa sobre qual deverá ser a participação brasileira. E também estamos aguardando para ver qual será a política do novo governo com relação ao programa."


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