São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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AMBIENTE

Atual administração americana admite em novo relatório que aquecimento global é produto de atividade humana

Governo Bush reconhece o efeito estufa

DA REDAÇÃO

A administração de George W. Bush reconheceu pela primeira vez, em um novo relatório, que as emissões de gases-estufa por atividades humanas são a principal causa do aquecimento global. A Casa Branca antes dizia que não havia evidência científica suficiente para culpar as emissões industriais pelo efeito estufa.
Também é a primeira vez que o atual governo americano legitima dados do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), grupo de cientistas que se dedica a apontar causas e consequências do aquecimento global. Bush recentemente foi acusado de manipular a eleição para a presidência do órgão, substituindo um climatologista que criticava sua posição sobre o tema.
O relatório, divulgado pela EPA (agência de proteção ambiental) na internet (www.epa.gov/globalwar ming/publications/car/index.html), afirma que as emissões americanas devem continuar a subir nas próximas décadas e apontou o impacto que o aquecimento global deve ter nos EUA.
No documento, enviado na última sexta-feira às Nações Unidas, o governo americano prevê que o total de emissões de gases-estufa pelo país irá aumentar em até 43% entre 2000 e 2020.
Apesar do reconhecimento, os EUA permanecem afastados do Protocolo de Kyoto, acordo internacional que objetiva a redução das emissões e que foi ratificado pelos 15 países da União Européia também na sexta, isolando de vez o país do debate internacional sobre mudanças climáticas.
O relatório diz que as temperaturas médias no país devem subir de 3C a 5C durante este século. Ecossistemas sensíveis, como as campinas das Montanhas Rochosas, vão provavelmente desaparecer. Regiões de floresta do sudeste podem ver "grandes transições de espécies", mudanças nos seus padrões de crescimento.
A elevação do nível do mar em até 48 cm por causa do aquecimento global poderia ameaçar construções, estradas, redes elétricas e outras construções em áreas sensíveis, aponta o documento. "Com maior nível do mar, regiões costeiras poderiam estar sujeitas a maior dano por inundação e pelo vento, mesmo que as tempestades tropicais não mudem em intensidade", conclui.

Benefícios
Mas nem tudo é má notícia para os americanos. O relatório enfatiza que o aquecimento global também traz benefícios potenciais para a nação, inclusive aumento do crescimento de florestas e do potencial agrícola no norte do país, já que os verões tendem a ser mais longos, as chuvas mais frequentes e a presença de dióxido de carbono estimula a fotossíntese.
O governo Bush repete em seu relatório que a política alternativa a Kyoto apresentada em fevereiro, que se baseia em medidas voluntárias para controlar as emissões por parte das companhias americanas, é o melhor meio de retardar o crescimento das emissões de gases-estufa.
Espera-se que uma estratégia voluntária "obtenha reduções de emissões comparáveis às prescritas pelo Protocolo de Kyoto, mas sem as ameaças ao crescimento econômico que os limites de emissão rígidos trariam".
"É importante seguir com a estratégia do presidente para responder ao desafio da mudança climática, e isso é o que estamos fazendo", diz Scott McClellan, um porta-voz da Casa Branca, quando questionado sobre o relatório.
A administração também se defende apontando que os EUA lideram os investimentos mundiais em ciência climática e que gastaram mais de US$ 18 bilhões em pesquisa desde 1990.
"Eu acho o relatório altamente significativo", disse à Folha José Goldemberg, secretário de Estado do Meio Ambiente de São Paulo e membro do IPCC.
Segundo ele, o movimento dos EUA pode ser o resultado de pressões do setor empresarial americano, que deseja participar do mercado de controle de emissões aberto pelo Protocolo de Kyoto que passa a ser usufruto da Europa com a ratificação.
"Ou [Bush] demite a chefe da EPA ou isso é uma preparação para uma mudança de posição."


Com Reuters


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