São Paulo, terça-feira, 04 de agosto de 2009

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Malária "colonizou" humanos vinda de chimpanzé, diz DNA

Pesquisa ajuda a monitorar primos do homem, que podem abrigar futuras doenças emergentes

Nathan Wolfe/Efe
Chimpanzés no parque nacional Mfou, situado em Camarões

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma equipe de "caçadores de vírus" que procura descobrir como eles surgem e saltam de animais para o homem descobriu agora que o pior parasita causador da malária passou do chimpanzé para o ser humano.
Muitos dos pesquisadores do grupo trabalham em geral com doenças emergentes, como é o caso da recente gripe de origem suína, A (H1N1), e também da Aids. Mas, quando voltaram a atenção para uma velha doença da humanidade, acharam sua origem remota no primata mais próximo do ser humano.
O chimpanzé é infectado por um "primo" do parasita da malária, mas apenas um deles tinha sido isolado até agora. O novo isolamento de oito novos parasitas e sua análise genética confirmaram a hipótese.

Primos e primos
Os bichos são vítimas do parasita Plasmodium reichenowi, muito parecido com o causador da forma mais grave da malária em seres humanos, o Plasmodium falciparum. O que se achava até agora era que os dois parasitas coexistiram separadamente nos últimos 5 milhões de anos e que teriam tido um ancestral comum.
No estudo, publicado na edição desta semana da revista científica "PNAS", os pesquisadores obtiveram amostras de chimpanzés em reservas, dez na Costa do Marfim e 84 em Camarões. Detectaram oito ocorrências do Plasmodium reichenowi, cinco delas em Camarões, embora um dos animais da Costa do Marfim, chamado Rafiki, tivesse duas linhagens do Plasmodium, com distintas sequências genéticas.
"Alguns anos atrás eu percebi que, para entender melhor a malária humana, nós realmente precisávamos estudar os parasitas da malária de nossos parentes mais próximos", disse à Folha o líder da pesquisa, Stephen M. Rich, da Universidade de Massachusetts em Amherst (EUA). Curiosamente, havia uma rica literatura sobre a malária em outros primatas datando da metade do século passado, conta ele. "O que é notável é que esse trabalho tenha sido em grande parte esquecido, com poucos grupos fazendo estudos médicos comparativos."
O novo estudo, diz ele, "é o resultado de vários anos de busca de amostras de sangue adequadas para o isolamento de DNA do Plasmodium reichenowi. É por isso que eu embarquei na colaboração com Fabian Leendertz e Nathan Wolfe, porque eles estavam buscando vírus recentemente emergentes ou potencialmente emergentes em chimpanzés".

Predição viral
Wolfe é fundador e diretor da GVFI, sigla em inglês para Iniciativa de Predição Viral Global, cujo objetivo é tentar impedir novas pandemias. "O fato de o Plasmodium reichenowi ser diversificado e tão disseminado em populações de chimpanzé levanta a questão da frequência com que essa e outras malárias de primatas podem estar infectando humanos. Como o diagnóstico de malária é em geral muito pobre, se tais infecções estiverem ocorrendo, nós só saberemos com estudo detalhado", declarou Wolfe.
Tais infecções poderão ser importantes caso surja uma vacina contra o parasita humano, o P. falciparum. "Essa transmissão "escondida" de animais a humanos não seria novidade, já que o P. knowlesi, um parasita de macacos, afeta pessoas na Ásia", afirma Wolfe.


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