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Novo Código Florestal coloca espécies em risco, afirma grupo
Para cientistas, redução de matas na beira
de riachos é erro de proposta na Câmara
SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se for implantado o novo
Código Florestal, aprovado
no mês passado por uma comissão da Câmara, os impactos negativos na fauna brasileira -como redução e até
extinção de algumas espécies- poderão ser sentidos já
nos próximos cinco anos.
A análise é de cientistas
que lotaram ontem o auditório da Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para discutir o projeto de lei proposto
pelo deputado federal Aldo
Rebelo (PCdoB-SP). De acordo com eles, o código não
contou com a comunidade
científica para ser elaborado.
O novo código, que ainda
precisa ser votado no Congresso, encolhe as APPs
(áreas de proteção permanente), entre outras medidas. A redução de 30 m para
15 m das APPs nas margens
dos riachos (com até 5 m de
largura), que compõem 90%
da malha hidrográfica nacional, é um dos pontos críticos.
Matas na beira dos rios são
importantes para os bichos
terrestres e os debaixo d'água, pois fornecem insetos e
material orgânico aos peixes.
"Em São Paulo, 45 das 66
espécies de peixes de água
doce ameaçadas de extinção
estão justamente nos riachos", relata a bióloga Lilian
Casatti, da Unesp.
OS SEM-FLORESTA
Répteis e anfíbios, que vivem em regiões alagadas,
também sofrerão impactos,
com menos vegetação às
margens dos pequenos rios.
"Onde há menos proteção de
APPs pelo novo código é onde há mais biodiversidade",
analisa o biólogo Luis Felipe
Toledo, da Unicamp.
No caso dos répteis, o novo
código afeta também um outro habitat natural: as montanhas. Isso porque áreas acima de 1.800 m deixam de ser
consideradas APPs e recebem permissão legal para serem desmatadas.
Para Otávio Marques, biólogo do Instituto Butantan, a
preservação dos répteis é importante inclusive do ponto
de vista da saúde pública. "O
veneno da jararaca, por
exemplo, possui uma molécula que controla a hipertensão e deu origem a um dos
principais medicamentos da
doença", destaca.
CORREDORES
O espaço menor para as
florestas na beira dos rios pode afetar também certas populações ameaçadas e restritas de aves e mamíferos.
Ambos usam as margens
preservadas como habitat ou
como caminho para migrar
de uma "ilha" de floresta preservada para outra. "Sem isso, os bichos escapam para o
meio urbano ou para áreas
de pastagens e acabam morrendo", diz Mauro Galetti,
biólogo da Unesp.
O encontro realizado na
Fapesp deverá resultar em
um documento para integrar
as discussões da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) sobre o
novo Código Florestal.
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