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Derrota deixa presidente frustrado
DA ENVIADA A JOHANNESBURGO
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que se sentia frustrado com a derrota da proposta brasileira de uma meta mundial de 10% de energia renovável até 2010 na Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +10). Disse, porém, que o Brasil vai manter a bandeira no plano internacional.
Ontem mesmo, a delegação brasileira já fechava conversações sobre a meta de energia com a União Européia e com os 15 países megadiversos (que detêm 70% da
biodiversidade do planeta).
FHC, outros presidentes e representantes do grupo se reuniram e, além de uma declaração conjunta sobre biodiversidade, acertaram levar adiante a idéia da
meta de energia. O presidente retornou ontem a Brasília.
Depois da reunião de ontem dos países megadiversos, os jornalistas perguntaram se o presidente se sentia frustrado com a derrota da meta de energia, principal proposta brasileira na conferência. Ele afirmou: "Certamente. Mas vamos avançar a nível regional".
O presidente brasileiro não concorda com a análise de que a própria Rio +10 foi decepcionante: "Houve avanços concretos. Não se pode dizer que em Johannesburgo não avançamos".
Disse, também, que os países pobres devem dar exemplo aos ricos: "Se formos esperar que os ricos e prósperos venham fazer por nós, nós vamos esperar muito
tempo, e eles não farão nada. Nós é que temos de cuidar da nossa biodiversidade, de modo que eles fiquem até acanhados".
Objetivos afins
O ministro José Carlos Carvalho, do Meio Ambiente, afirmou:
"Não me sinto derrotado, mas estou frustrado". E explicitou o que
FHC apenas insinuara: "Diante
da dificuldade de obter consenso
global, estamos partindo para um
processo de coalizão política entre nações com objetivos afins, como a UE e os megadiversos".
Disse que os aliados não param
aí e citou o chanceler alemão, Gerhard Schröder, que anunciou
uma reunião sobre energia renovável em 2003, que pode servir de
pólo de atração de outros países.
Os presidentes da Venezuela,
Hugo Chávez, e do México, Vicente Fox, defenderam ontem a
meta de energia do Brasil e se declararam dispostos a manter o tema na agenda internacional. Eles
participaram com FHC da reunião de megadiversos.
Apesar de a Venezuela ser
membro da Opep (Organização
dos Países Exportadores de Petróleo), Chávez declarou apoio à meta de energia e disse que seu governo estimula a energia hidrelétrica: "A água é uma fonte de
energia limpíssima".
Segundo Fox, principal articulador da reunião, o grupo megadiverso tem três prioridades: proteção da biodiversidade, repartição
de benefícios com as comunidades (de onde saem as espécies) e
fontes alternativas de energia.
Os megadiversos divulgaram
uma declaração conjunta anunciando a criação de um regime internacional para a "distribuição
justa e equitativa dos benefícios
do uso da diversidade biológica e
de seus componentes".
Como parte desse regime, listaram duas estratégias: concessão
de certificados legais de procedência do material biológico e conhecimento prévio, fundamentado e comum para a transferência
de material genérico.
Para Chávez, o importante é que
o grupo não fique só na palavra:
"Não ficamos só na declaração,
mas passamos à ação para proteger a nossa biodiversidade da exploração irracional".
Código de conduta
Mais uma vez, quem foi objetivo
ao explicar a essência prática da
reunião foi o ministro Carvalho.
Segundo ele, a decisão mais prática foi a de criar um código de conduta, sistemas de cooperação técnica e financeira e a definição de
políticas comuns.
O grupo, porém, não anunciou
formalmente a criação de um fundo para operacionalizar suas
ações, limitando-se a dizer que estuda a possibilidade de fazê-lo e
espera receber contribuições da
comunidade internacional e das
agências de financiamento.
Fazem parte do grupo, além de
Brasil, Venezuela e México: Bolívia, China, Colômbia, Costa Rica,
Equador, Filipinas, Índia, Indonésia, Quênia, Malásia, Peru e
África do Sul.(EC)
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