São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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POLÍTICA CIENTÍFICA

Plebiscito desafia decisão do governo Bush e aprova verba para pesquisa com embriões por dez anos

Califórnia dá US$ 3 bi para célula-tronco

DA REDAÇÃO

Na contramão das políticas da administração Bush e de sua vitória avassaladora na eleição americana, o Estado da Califórnia aprovou ontem a destinação de US$ 3 bilhões durante dez anos para a pesquisa com células-tronco embrionárias humanas.
A medida torna a Califórnia o primeiro Estado americano a financiar com verbas públicas esse tipo de investigação, tema de debates acalorados no país. Um de seus principais apoiadores, ironicamente, foi o governador Arnold Schwarzenegger, republicano.
A chamada Proposta 71 foi aprovada em plebiscito por 59% dos eleitores californianos e rejeitada por 41% deles, segundo resultados preliminares. Ela teve apoio de outras estrelas de Hollywood, como Brad Pitt e Michael J. Fox, além de US$ 25 milhões em contribuições de campanha feitas por empresários do Vale do Silício, pelos co-fundadores da Microsoft, Bill Gates e Paul Allen, e por pais de crianças doentes.
"Isso faz me sentir muito bem pela minha filha e por todas as pessoas no Estado que esperam uma cura", disse a produtora de cinema Janet Zucker, que tem uma filha diabética. "A ajuda está a caminho", afirmou.
As células-tronco são uma aposta da medicina devido ao seu potencial de se converter em qualquer tipo de tecido no organismo, de células do coração a outros músculos, ossos e até neurônios.
Num prazo de sete anos a quatro décadas, avaliam especialistas, elas podem ser usadas para tratar doenças degenerativas, como diabetes e mal de Parkinson, e lesões da medula ou do coração.
Sua obtenção, no entanto, passa por um dilema ético: elas são encontradas em embriões com cerca de cinco dias de vida e, para serem extraídas, esses embriões são destruídos. Religiosos e grupos antiaborto -que saíram fortalecidos com a reeleição de Bush- afirmam que a destruição de embriões humanos é o equivalente moral do assassinato.
Hoje, o financiamento público para pesquisas com células-tronco embrionárias se restringe a US$ 25 milhões por ano. Só podem ser pesquisadas 19 linhagens que já haviam sido derivadas -ou seja, para cuja obtenção embriões já haviam sido destruídos- há alguns anos.
Essas linhagens, no entanto, são pouco flexíveis (têm baixa capacidade de diferenciação) e, segundo estudos recentes, não podem ser implantadas em humanos.
A medida cria o Instituto Californiano de Medicina Regenerativa e custará aos endividados cofres do Estado US$ 6 bilhões por ano. Mas seus apoiadores dizem que ela injeta ânimo em um campo moribundo de pesquisa.


Com agências internacionais


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