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Amazônia tem 29 espécies ameaçadas em área crítica
Região na divisa do Pará com o Maranhão já perdeu 77% das suas florestas
Animais e plantas da lista só
existem na área estudada;
terras indígenas e reservas
particulares ainda mantém
pequenos "oásis" na região
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores que estudam a
Amazônia agora já sabem qual
vai ser o primeiro pedaço da
floresta a ter espécies extintas.
O chamado Centro de Endemismo Belém, área geográfica
com 243 mil km2 dividida entre
Pará e Maranhão, abriga vários
seres vivos endêmicos (que só
existem lá) e é a região mais
ameaçada de todo o norte do
Brasil. O alerta foi dado ontem
num estudo apresentado por
cientistas do Museu Paraense
Emílio Goeldi, de Belém.
"Essa é de longe a pior área
da Amazônia em termos de risco ambiental. Restam apenas
23% de floresta intacta" disse à
Folha José Maria Cardoso da
Silva, pesquisador e vice-presidente de Ciência da CI (Conservação Internacional). A
ONG é parceira do museu no
trabalho, que faz parte do Projeto Biota-Pará.
O quadro consolidado pela
análise das imagens de satélite
e também dos trabalhos de
campo é tão dramático que os
autores do estudo estão relacionando o Centro de Endemismo Belém com outros biomas brasileiros e não com o
restante da floresta amazônica.
"Em termos de destruição, encontramos agora a nossa mata
atlântica", disse Ima Vieira, diretora do Museu Goeldi.
A floresta litorânea brasileira, na sua origem, ocupava um
grande trecho de terra situado
entre Rio Grande do Norte e o
Rio Grande do Sul. Hoje, intactos, restam apenas 7%. Na
Amazônia, apesar de a área
agora analisada ter ainda 23%
de floresta, as pressões são tão
grandes que os pesquisadores
admitem estarem realmente
preocupados com o futuro da
região, que tem 147 municípios
e 5,9 milhões de habitantes.
Aves desaparecidas
A área agora classificada como a mais vulnerável da região
amazônia é a que tem o histórico de ocupação humana mais
antigo. "As atividades agropecuárias, de forma oficial, são
feitas lá desde o século 19. Mas
nos últimos 50 anos elas se aceleraram muito", explica a diretora do Museu Goeldi.
Segundo Vieira, o local abriga
29 espécies classificadas como
ameaçadas do Estado do Pará.
"São vários grupos, mas tem
um tipo de pássaro que não é
visto na região há 40 anos."
Além disso, dois tipos de primata -entre eles o macaco-caiarara- também correm o
risco de serem riscados da floresta. "Começar a perder espécies na Amazônia é algo bastante crítico", afirma Vieira. "Não
estamos mais falando de problemas existentes entre os rios.
Nossos parâmetros agora são
as estradas, como a zona entre a
PA-150 e a BR-010, onde não
existem mais blocos contínuos
de vegetação florestal".
Para o vice-presidente de
ciência da CI, o estudo também
aponta um caminho que pode
ser considerado positivo. "Os
dois grandes blocos preservados mostram que terras indígenas e reservas particulares podem muito bem cumprir com
seus papéis."
No resto da área, entretanto,
o quadro é absolutamente
oposto. "A ilegalidade é muito
grande. Na grande maioria das
áreas não há respeito pela Lei
da Reserva Legal [20% da floresta na propriedade não pode
ser derrubada]".
Para Silva, todo cuidado a
partir de agora é pouco. "Essa
área chegou a esse estado pela
falta de organização no processo de ocupação. Temos que ficar atentos para que ela não vire um pólo de extinção. Além
disso, para o pesquisador, a
imagem que se têm diante dos
olhos poderá ficar pior. "Caso
não exista um planejamento
para o resto da Amazônia, vai
ocorrer o mesmo nos outros sete centros de endemismo."
Saiba mais sobre a Amazônia www.museu-goeldi.br
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