São Paulo, quarta-feira, 04 de novembro de 2009

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RUMO A COPENHAGUE

Governo deixa meta de CO2 para depois

Brasil pode guardar na manga para conferência do clima de Copenhague medidas mais ambiciosas de redução de emissões

Compromisso de reduzir desmate na Amazônia fica, mas corte de 40% proposto por Carlos Minc pode não ser expresso em números

Alan Marques/Folha Imagem
Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, conversa com Carlos Minc (Meio Ambiente) durante entrevista após reunião ministerial

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro sinalizou ontem que poderá levar uma meta ampla para diminuir a emissão de gases-estufa apenas como uma carta na manga para a conferência do clima de Copenhague, no mês que vem. Ou seja, somente a apresentará caso haja o comprometimento de outras nações com o tema, em especial China e EUA.
Caso contrário, como sugeriu ontem a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), utilizará os dados como medidas internas. A avaliação do governo brasileiro é que a conferência tende a fracassar, por isso a cautela quanto a uma meta internacional.
"O Brasil está disposto a fazer o maior esforço possível para que essa reunião em Copenhague seja bem sucedida, mas ele vai fazer a parte dele. Ele vai fazer por si mesmo algumas propostas que são para o Brasil cumprir. São mais uma oferta e um objetivo que o Brasil vai colocar para si", disse a ministra, que estará à frente da comitiva brasileira na Dinamarca.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, revendo sua disposição inicial, sinalizou que só iria a Copenhague se outros chefes de Estado comparecessem.
A proposta idealizada, como sinalizou ontem o chanceler Celso Amorim, deve ficar em torno de 40% de redução em relação ao que seriam as emissões brasileiras em 2020 caso nada fosse feito. Não se trata de um corte absoluto, mas sim de um "desvio de trajetória".
A redução em 80% do desmatamento na Amazônia responderia por 20% desse desvio, e os 20% restantes viriam de outros quatro eixos: redução do desmatamento em outros biomas, um setor siderúrgico sustentável, produção de eletricidade limpa e agropecuária eficiente.
Porém, diferentemente do que vinha propondo o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente), somente a meta de redução do desmatamento deverá ser expressa em números. Os 20% restantes seriam ações que o Brasil declararia, mas sem se comprometer com o resultado.
O governo sabe que, para ter metas ambiciosas, não depende apenas de suas pernas. Principalmente em relação à queda do desmatamento, o Brasil conta com recursos estrangeiros. Os países em desenvolvimento esperam a criação de um fundo de US$ 400 bilhões, mas, por ora, não há ofertas dos países desenvolvidos na mesa.
A definição da meta, caso seja divulgada, depende também da estimativa de crescimento da economia até 2020. O Ministério do Meio Ambiente, a pedido de Dilma, apresentou projeções diante de um crescimento anual médio de 4%, 5% e 6%.
Segundo a Folha apurou, Lula e Dilma devem bater o martelo nas estimativas mais altas do PIB (5% ou 6%). Mas isso não deve alterar a meta de 20% por corte no desmatamento.
Ontem, Lula reuniu representantes de oito ministérios para tratar do tema. Definiu apenas a cifra para a Amazônia.

Sexta-feira 13
O restante dependerá de projeções a serem apresentadas no dia 13, sexta-feira, pelas pastas. "O número tem de ser credível. Nós não estamos aqui para fazer uma proposta que não tenha credibilidade", disse a ministra, que completou: "Estamos fazendo isso de forma voluntária. Não estamos fazendo isso porque alguém definiu que a gente tinha de fazer".
A falta do anúncio da meta brasileira ontem desapontou ONG ambientalistas que acompanham as negociações do clima em Barcelona. "O governo tinha criado uma expectativa. A sensação é de frustração", disse Katia Maia, do escritório da Oxfam no Brasil. "Essa ausência de metas precisa ser melhor explicada."
Paulo Adário, do Greenpeace, criticou a atuação de Dilma. "A sinalização que ela dá nessa discussão é claramente: "Eu não estou interessada nessa discussão ambiental"." (EDUARDO SCOLESE, KENNEDY ALENCAR e SIMONE IGLESIAS)


Colaboraram ROBERTO DIAS , em Barcelona, e CLAUDIO ANGELO, editor de Ciência


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