|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Boicote africano atrasa negociação sobre cortes de emissões
ROBERTO DIAS
EM BARCELONA
Insatisfeitos, representantes
dos países africanos boicotaram ontem sessões da conferência do clima de Barcelona. A
ausência deles fez com que fosse suspensa uma negociação
que já não vinha nada bem.
O problema só foi contornado à noite, e ainda assim de maneira provisória. Os africanos
aceitaram voltar hoje às reuniões. Mas deixaram claro aos
países europeus que podem
abandonar a sala de novo se as
coisas se desencaminharem.
A insatisfação africana gira
em torno de um número: quanto os países desenvolvidos vão
se comprometer a reduzir das
suas emissões de gases do efeito estufa. Em Barcelona (último encontro formal antes da
cúpula de Copenhague, em dezembro), o debate se concentra
nas metas para 2020.
A Europa já falara em reduzir
suas emissões em até 30% em
relação ao nível de 1990. Os
africanos acham pouco e querem 40%. "Pedimos que os países desenvolvidos tenham números que estejam de acordo
com a ciência", afirmou o argelino Kamel Djemouai, representante do grupo.
Ao falar em "ciência", ele recorre a estudos que mostram
alta probabilidade de que as
metas em discussão para Copenhague não seriam suficientes
para evitar consequências perigosas da mudança do clima.
"Não se trata de uma questão
de viver em uma casa de três
andares ou viver numa de um
quarto só. Todas as ofertas vendidas à mídia pelos países desenvolvidos são insuficientes.
Um acordo fraco iria nos levar à
morte", afirmou o sudanês Lumumba Stanislaus Di-Aping,
que falou em nome do
G77+China (Bloco diplomático
de países em desenvolvimento
do qual o Brasil faz parte). "Se
ficarmos nos 30%, nossas florestas irão quase desaparecer.
Pequenos Estados que ficam
em ilhas iriam desaparecer."
O Brasil apoiou a posição
africana. "Ter os números é importante para a negociação como um todo", disse André
Odenbreit, do Itamaraty.
Tampouco os africanos conseguiram arrancar ontem alguma promessa nova dos países
desenvolvidos. O acordo para
que eles voltassem à mesa passou tomou tempo. Agora, 60%
das sessões em Barcelona, até
sexta, serão usadas para debater as metas de gases-estufa.
"Os países africanos mostraram que não vão esperar e aceitar um acordo ruim em Copenhague. Os países ricos precisam agora usar bem esse tempo
extra",disse Antonio Hill, conselheiro da ONG Oxfam.
Os europeus criticaram ao
longo do dia a estratégia africana. "Entendemos a preocupação deles. Mas a maneira que
escolheram para limitar a discussão pode não ser muito produtiva", afirmou o sueco Anders Turesson, negociador-chefe da União Europeia.
Quem esteve ausente do centro do conflito ontem foram os
EUA, que nem meta oficial colocaram na mesa. "Todos reconhecem que a falta de metas
dos EUA é um constrangimento para a negociação", disse
Elliot Diringer, do Centro Pew
para Pesquisa em Mudança Climática. Ele ponderou que os
EUA só devem mostrar algo
quando houver acordo doméstico sobre o número e vontade
de atingi-lo. "Há risco para o
processo político interno se
houver a percepção de que o
presidente Obama está andando à frente do Congresso."
Texto Anterior: Governo deixa meta de CO2 para depois Próximo Texto: Análise: Lula arrisca perder o bonde de Copenhague Índice
|