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Periscópio
Funções da lipoproteína
José Reis
especial para a Folha
A aterosclerose (depósito de gordura
no revestimento interno das artérias) é uma das mais difundidas e graves
doenças, pelo menos nos países industrializados do Ocidente. Ela pode acarretar doença coronariana e infarto do miocárdio, assim como derrame cerebral.
Algumas de suas causas e dos fatores que
a favorecem são bem conhecidos e têm
sido propalados nos meios de comunicação, concorrendo para baixar seus índices de mortalidade. Pressão alta, diabetes, fumo, consumo de gorduras saturadas (geralmente animais) parecem aumentar a probabilidade da doença coronária prematura. Também influi a constituição genética: há pessoas que se expõem a todos aqueles riscos e todavia
não contraem a moléstia.
Por outro lado, descobriu-se que certa
porcentagem dos indivíduos que não
têm aqueles sinais premonitórios é atingida por ataques cardíacos. Cerca de um
terço desses refere-se a pessoas que têm
no sangue uma espécie de lipoproteína
(complexo de proteína e gordura) que
pode ser responsável por casos de aterosclerose que ocorrem em pessoas nas
quais a doença coronariana não deveria
acontecer pela falta de fatores de risco.
Tal lipoproteína é chamada de lipoproteína (a). Esta é muito rebelde, resistindo
às alterações dietéticas, ao exercício e a
outros fatores que costumam reduzir o
risco da aterosclerose. A lipoproteína (a)
é abundante no sangue de pessoas cuja
sensibilidade à doença coronária não encontra explicação nas causas aceitas.
A lipoproteína (a) foi descoberta no começo de década de 60 por Kare Berg, na
Universidade de Oslo. Por injeção de lipoproteínas humanas em coelhos, ele
obtinha anticorpos contra as lipoproteínas e confirmou que cerca de um terço
das amostras humanas contém lipoproteína (a). Revelou ainda que sua lipoproteína (a) é hereditária. Gosta Dahlén, do
Hospital Central de Boden (Suécia), provou que os indivíduos com lipoproteína
(a) têm incidência de ataque cardíaco superior à de uma população controle.
Pesquisas mais detalhadas provaram
que quase todas as pessoas têm lipoproteína (a), mas em concentração que varia
de quase mil vezes entre os indivíduos.
Por outro lado, a concentração de lipoproteína em cada pessoa é constante.
No sangue humano, a principal partícula transportadora do colesterol é a lipoproteína de baixa densidade (LDL).
Sua molécula é formada de 2.000 moléculas de colesterol, mil de fosfolipídeos
(gorduras fosforadas) e uma proteína
superficial chamada de apoliproteína B-100. A molécula da lipoproteína (a) difere da lipoproteína comum pela presença
de uma apolipoproteín(a), que se prende
a aquela outra apolipoproteína.
A lipoproteína (a) é parecida também,
pelos ácidos aminados que contém, com
uma substância muito importante na fisiologia do sangue-o plasminogênio.
Esse é precursor de uma protease (enzima que desagrega as proteínas) envolvida em reações que levam à dissolução ou
à formação da fibrina, a proteína principal dos coágulos.
Pesquisadores ainda estão inseguros a
respeito de como a lipoproteína (a) pode
promover o ataque coronariano. Vários
experimentos sugerem que a lipoproteína (a) pode favorecer o fechamento de
ferimentos, embora também seja capaz
de promover a aterosclerose, quando
presente em excesso. Resultados preliminares de estudos genéticos e bioquímicos sugerem que, em parte, a aterosclerose e o ataque cardíaco podem ser
efeitos colaterais do envolvimento da
substância no reparo de vasos rompidos.
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