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IPCC mostra caminho para curar o clima
Painel da ONU aponta as melhores estratégias e tecnologias para começar a reduzir a emissão de gases do efeito estufa
Tecnologias já disponíveis,
como o biocombustível ou a
energia nuclear, poderão
ajudar no corte do carbono
em até 63%, a baixos custos
Carlf Zhang/Reuters
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DESAFIO GLOBAL
Usina chinesa que usa carvão como matriz energética é um dos alvos do relatório do IPCC, que mostra que o grande potencial para a redução das emissões está nos países pobres
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A BANCOC
O mundo pode combater a
mudança climática com as tecnologias existentes hoje, mas
evitar seus piores efeitos exigirá uma ação imediata e custará
até 2030 pouco menos de 3%
do PIB mundial.
A conclusão é do IPCC (Painel Intergovernamental sobre
Mudança Climática), que lançou ontem em Bancoc, Tailândia, o sumário executivo da terceira parte de seu Quarto Relatório de Avaliação, o AR4.
O documento de 35 páginas,
intitulado "Mitigação da Mudança Climática", é endereçado
aos formuladores de políticas
públicas ("policymakers"). Ele
lista as principais soluções para
o problema de como reduzir as
emissões globais de gases de
efeito estufa, em especial o gás
carbônico (CO2).
Com ele, o IPCC encerra a
mais completa radiografia já
feita do maior problema ambiental da história.
"Agora os líderes mundiais já
têm a ciência do aquecimento
global [a primeira parte do
AR4], conhecem seus impactos
[a segunda parte] e sabem como atacar a questão", disse à
Folha Gavin Edwards, coordenador de Clima e Energia da organização ambientalista
Greenpeace. "Só falta agir."
E agir rápido. De 1970 até
2004, mostra o relatório, as
emissões dos gases que aprisionam o calor da Terra na atmosfera subiram 70%. Se nada for
feito, em 2030 elas tendem a
crescer de 25% a 90% em relação a 2000.
"O mundo definitivamente
está no caminho do aquecimento", disse ontem o presidente do IPCC, o indiano Rajendra Pachauri, no lançamento do relatório. "Se continuarmos a fazer o que estamos fazendo, teremos problemas sérios", completou o co-coodenador do Grupo de Trabalho 3,
Ogunlade Davidson, que liderou a produção do sumário.
Por "problemas sérios" entenda-se aquilo que os cientistas chamam de "interferência
perigosa" do homem no clima
da Terra. Ela é expressa por um
aquecimento em 2100 superior
a 2C acima da média pré-industrial, o que teria efeitos catastróficos sobre ecossistemas
e ainda nas sociedades.
Colocar o sistema climático
dentro de um limite seguro de
temperatura implicaria estabilizar as concentrações de CO2
na atmosfera em cerca de 450
partes por milhão -o dobro
dos níveis pré-industriais- ,
afirma o IPCC. Para isso, os governos do mundo inteiro precisariam reduzir as emissões em
50% a 85% em 2050.
Para que isso aconteça, será
necessário que as emissões globais atinjam seu pico e comecem a declinar logo: no ano de
2015. "Como o carbono que
emitimos perdura na atmosfera, é preciso fechar a torneira
antes que a banheira transborde", disse o outro coordenador
do relatório, Bert Metz.
Se o pico for adiado, o custo
de trazer a curva para baixo aumentará muito. É preciso aproveitar, portanto, enquanto a
humanidade aparentemente
pode pagar a mitigação
"Isso vai ser um esforço hercúleo", pondera Branca Bastos
Americano, do Ministério da
Ciência e Tecnologia, membro
da delegação brasileira na reunião do IPCC em Bancoc.
Kyoto acelerado
Quando expirar, em 2012,
Kyoto terá conseguido reduzir,
no máximo, 5,2% das emissões
dos países industrializados
(menos Austrália e EUA) em
relação a 1990. Um eventual
substituto do protocolo teria de
cumprir muito mais em apenas
sete anos, contando com uma
barreira adicional: mais de 60%
do crescimento das emissões
até 2030 virá de países pobres.
A boa notícia é que as soluções estão ao alcance da mão.
As diversas opções incluem
carros e eletrodomésticos econômicos, o uso de biocombustíveis, a energia nuclear e a redução do desmatamento. O pacote todo pode cortar até 63% das
emissões a um custo razoável
(até US$ 100 por tonelada de
CO2 abatida). A custo zero, é
possível cortar 7 bilhões de toneladas (quase o que a humanidade emite por ano hoje).
No Brasil, a ministra do Meio
Ambiente, Marina Silva, disse
que quer terminar o plano nacional de enfrentamento da
crise do clima em 90 dias. "Já
há várias ações em curso. Não
vamos começar do zero."
Já o ministro Sérgio Rezende
(Ciência e Tecnologia) destacou a menção que o IPCC fez à
energia nuclear como potencial "limpo". "A resistência a
ela vem de alguns ambientalistas pouco esclarecidos", disse.
Com a reportagem local
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