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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Agricultura responde por aumento em queimadas; tecnologia, por redução em CFCs
Ambiente segue a economia, indica IBGE
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
MARIANA VIVEIROS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Os fatores econômicos têm peso
tão grande nos avanços e retrocessos dos índices brasileiros de
sustentabilidade quanto a legislação e a consciência ambientais. É
o que indica a segunda edição dos
"Indicadores de Desenvolvimento Sustentável", lançada ontem
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
A expansão da agropecuária,
que tem impacto positivo na economia nacional, foi determinante
para um dos principais pontos
negativos destacados pelo relatório: o crescimento de 99% no número de queimadas, entre 1998 e
2003, e o aumento de 43% no território desmatado na Amazônia
Legal entre 1992 e 2002.
No ano passado, o fogo atingiu
213 mil pontos no país. Os Estados recordistas em incêndios são
justamente aqueles onde prospera a agricultura de exportação. O
campeão é Mato Grosso, maior
produtor de soja do país, com
mais de 55 mil pontos em 2003.
Na avaliação de Judicael Clevelario Júnior, coordenador dos indicadores ambientais no IBGE, o
agricultor, ao preparar o solo por
meio de queimadas seletivas, não
toma os cuidados necessários e o
fogo se espalha para as matas.
Roberto Smeraldi, diretor da
ONG Amigos da Terra, ressalta
que a atividade econômica não é a
"única vilã" nesses casos, mas diz
que o avanço da agricultura deixa
as áreas de mata vizinhas "fragilizadas", "ralas" e "secas", em decorrência da abertura de estradas
para escoar a retirada de madeira.
Camada de ozônio
A economia também teve papel
importante no dado mais positivo
trazido pelo relatório: a redução
do consumo de gases que destroem a camada de ozônio. A
quantidade total produzida e importada pelo Brasil diminuiu de
11,2 mil toneladas em 1992 para
4.356 toneladas no ano passado,
uma queda de 61%.
O país está adiantado no cumprimento das metas do Protocolo
de Montreal, assinado em 1987 e
ratificado pelo Brasil em 1990. Ele
fixou prazos para a eliminação do
uso de substâncias como os CFCs
(clorofluorcarbonos, usados em
geladeiras, condicionadores de ar
e sprays), o brometo de metila
(pesticida) e os halons (agentes de
extintores de incêndio).
As principais razões do sucesso
do protocolo são sua viabilidade
econômica e o convencimento da
opinião pública sobre os riscos da
destruição da camada de ozônio.
No campo econômico, houve
uma conjunção de fatores favoráveis, diz Ruy de Goes, diretor do
Programa de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, que coordena o Comitê
Interministerial para a Proteção
da Camada de Ozônio.
Quando o protocolo obrigou o
banimento progressivo dos gases
destruidores de ozônio, já havia
tecnologia pronta para fabricar e
usar os substitutos. Em 1990, foi
constituído um fundo mundial
para financiar a troca de tecnologia nos países em desenvolvimento -até 2012, o Brasil terá recebido US$ 27,5 milhões. Fora isso,
como os países desenvolvidos tiveram de parar de usar CFCs em
2000, os equipamentos a serem
exportados tiveram de se adaptar.
Apoio científico
"As certezas científicas em relação à destruição da camada de
ozônio e suas conseqüências e a
forma como tudo foi divulgado
também contribuíram para que o
problema se consolidasse perante
a opinião pública", defende o pesquisador e consultor ambiental
Flavio Cotrim Pinheiro. Há exatos
30 anos, um artigo científico do
químico mexicano Mario Molina
e do americano Frank Sherwood
Rowland na revista "Nature" trazia a primeira evidência de que os
CFCs destruíam a camada de ozônio sobre a Antártida.
A camada de ozônio atua como
um filtro, protegendo o planeta da
radiação nociva do sol (a ultravioleta B ou UV-B). No homem, a exposição de longo prazo a essa radiação está associada a danos à visão, à supressão do sistema imunológico e ao câncer de pele.
Outros pontos positivos apontados no relatório do IBGE são
uma tendência estacionária na
concentração da maioria dos poluentes do ar, ganhos na área de
saneamento e aumento na reciclagem. Entre os dados negativos,
estão o maior uso de fertilizantes
(crescimento de 106,8% na quantidade utilizada por hectare plantado entre 1992 e 2002) e de agrotóxicos, com um aumento de
23,5% de 1992 a 2003.
A publicação "Indicadores de
Desenvolvimento Sustentável"
compila variáveis sociais, econômicas, ambientais e institucionais
de inúmeras fontes. A partir delas,
foram formulados 59 indicadores
que têm como referência 57 índices definidos pela Comissão para
o Desenvolvimento Sustentável,
da ONU. Uma nova publicação
deve sair em 2006.
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