São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Agricultura responde por aumento em queimadas; tecnologia, por redução em CFCs

Ambiente segue a economia, indica IBGE

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

MARIANA VIVEIROS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Os fatores econômicos têm peso tão grande nos avanços e retrocessos dos índices brasileiros de sustentabilidade quanto a legislação e a consciência ambientais. É o que indica a segunda edição dos "Indicadores de Desenvolvimento Sustentável", lançada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A expansão da agropecuária, que tem impacto positivo na economia nacional, foi determinante para um dos principais pontos negativos destacados pelo relatório: o crescimento de 99% no número de queimadas, entre 1998 e 2003, e o aumento de 43% no território desmatado na Amazônia Legal entre 1992 e 2002.
No ano passado, o fogo atingiu 213 mil pontos no país. Os Estados recordistas em incêndios são justamente aqueles onde prospera a agricultura de exportação. O campeão é Mato Grosso, maior produtor de soja do país, com mais de 55 mil pontos em 2003.
Na avaliação de Judicael Clevelario Júnior, coordenador dos indicadores ambientais no IBGE, o agricultor, ao preparar o solo por meio de queimadas seletivas, não toma os cuidados necessários e o fogo se espalha para as matas.
Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra, ressalta que a atividade econômica não é a "única vilã" nesses casos, mas diz que o avanço da agricultura deixa as áreas de mata vizinhas "fragilizadas", "ralas" e "secas", em decorrência da abertura de estradas para escoar a retirada de madeira.

Camada de ozônio
A economia também teve papel importante no dado mais positivo trazido pelo relatório: a redução do consumo de gases que destroem a camada de ozônio. A quantidade total produzida e importada pelo Brasil diminuiu de 11,2 mil toneladas em 1992 para 4.356 toneladas no ano passado, uma queda de 61%.
O país está adiantado no cumprimento das metas do Protocolo de Montreal, assinado em 1987 e ratificado pelo Brasil em 1990. Ele fixou prazos para a eliminação do uso de substâncias como os CFCs (clorofluorcarbonos, usados em geladeiras, condicionadores de ar e sprays), o brometo de metila (pesticida) e os halons (agentes de extintores de incêndio).
As principais razões do sucesso do protocolo são sua viabilidade econômica e o convencimento da opinião pública sobre os riscos da destruição da camada de ozônio. No campo econômico, houve uma conjunção de fatores favoráveis, diz Ruy de Goes, diretor do Programa de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, que coordena o Comitê Interministerial para a Proteção da Camada de Ozônio.
Quando o protocolo obrigou o banimento progressivo dos gases destruidores de ozônio, já havia tecnologia pronta para fabricar e usar os substitutos. Em 1990, foi constituído um fundo mundial para financiar a troca de tecnologia nos países em desenvolvimento -até 2012, o Brasil terá recebido US$ 27,5 milhões. Fora isso, como os países desenvolvidos tiveram de parar de usar CFCs em 2000, os equipamentos a serem exportados tiveram de se adaptar.

Apoio científico
"As certezas científicas em relação à destruição da camada de ozônio e suas conseqüências e a forma como tudo foi divulgado também contribuíram para que o problema se consolidasse perante a opinião pública", defende o pesquisador e consultor ambiental Flavio Cotrim Pinheiro. Há exatos 30 anos, um artigo científico do químico mexicano Mario Molina e do americano Frank Sherwood Rowland na revista "Nature" trazia a primeira evidência de que os CFCs destruíam a camada de ozônio sobre a Antártida.
A camada de ozônio atua como um filtro, protegendo o planeta da radiação nociva do sol (a ultravioleta B ou UV-B). No homem, a exposição de longo prazo a essa radiação está associada a danos à visão, à supressão do sistema imunológico e ao câncer de pele.
Outros pontos positivos apontados no relatório do IBGE são uma tendência estacionária na concentração da maioria dos poluentes do ar, ganhos na área de saneamento e aumento na reciclagem. Entre os dados negativos, estão o maior uso de fertilizantes (crescimento de 106,8% na quantidade utilizada por hectare plantado entre 1992 e 2002) e de agrotóxicos, com um aumento de 23,5% de 1992 a 2003.
A publicação "Indicadores de Desenvolvimento Sustentável" compila variáveis sociais, econômicas, ambientais e institucionais de inúmeras fontes. A partir delas, foram formulados 59 indicadores que têm como referência 57 índices definidos pela Comissão para o Desenvolvimento Sustentável, da ONU. Uma nova publicação deve sair em 2006.


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