São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011

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Gengis Khan tem fama injusta de cruel, diz livro

Para antropólogo, historiografia ocidental esquece seu incentivo à liberdade religiosa, livre comércio e educação

Imperador mongol, que dominou a maior parte da Ásia, não torturava, mas realmente matava os inimigos sem pudor

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Considerado um dos mais sanguinários e cruéis líderes do mundo antigo, o imperador mongol Gengis Khan (1162-1227) pode ter carregado esta fama injustamente.
A imagem do governante, que em 25 anos conquistou mais terras do que os romanos em 400, teria sido vítima da sua própria estratégia de "marketing": espalhar boatos aterrorizantes sobre si mesmo e seu exército para intimidar os inimigos.
"No Ocidente, temos muita dificuldade para ver as realizações de pessoas de fora. Honramos Alexandre, o Grande, ou podemos ver as diferentes faces de Napoleão, mas conquistadores asiáticos, particularmente Gengis Khan, são vistos simplesmente como bárbaros."
A afirmação é do antropólogo americano Jack Weatherford, que literalmente mergulhou no universo do conquistador mongol.
Além de passar anos se dedicando à leitura de documentos da época, Weatherford e outros pesquisadores refizeram -com direito a muitas noites embrenhados no mato- boa parte do itinerário de Khan e seu exército.
O resultado é o livro "Gengis Khan e a Formação do Mundo Moderno" (Ed. Bertrand Brasil, 462 pág., R$ 49), que retrata o imperador como muito "civilizado" para a época: permitiu a liberdade religiosa, construiu escolas, aboliu a tortura e até criou uma espécie de livre comércio com territórios vizinhos.
O número de mortos atribuídos às conquistas de Gengis Khan são muitas vezes absurdos. Alguns acadêmicos menos conservadores falam em 350 mortes por soldado mongol nas campanhas.
"Se tantas pessoas vivessem nas cidades da Ásia Central na época, poderiam ter facilmente dominado os invasores", diz Weatherford.
Segundo ele, o solo desértico da região protege os ossos por centenas, às vezes milhares de anos. Analisando as ruínas, normalmente não há indícios de nem um décimo dos mortos que figuram nos livros de história.
Embora realmente tenha assassinado muita gente -Khan costumava matar boa parte dos aristocratas e exércitos conquistados-, os mongóis não usavam práticas como torturar e aleijar inimigos, hábitos comuns na época: em 1014, por exemplo, o imperador cristão bizantino mandou cegar 15 mil prisioneiros de guerra após a conquista dos búlgaros.

ROMÂNTICO
Khan nasceu pobre e, perto dos dez anos, seu pai morreu. Ele foi abandonado por seu clã, com irmãos e mãe.
Criou-se como quem não tinha nada a perder. Sua primeira participação na destruição de uma cidade, quando nem tinha um exército formado, foi montando uma aliança para salvar sua primeira mulher, Borte, que tinha sido sequestrada.
No caso de raptos de mulheres, comuns na época, o normal era que o marido "deixasse para lá" e simplesmente casasse com outra.
Borte esteve longe de ser a única. Polígamo, Khan teve várias mulheres oficiais, além de outras "amantes".
Como não era o filho mais velho, Gengis Khan matou seu meio-irmão ainda na adolescência, assumindo a liderança da família.
Era o primeiro de muitos assassinatos pelo poder.


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