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INOVAÇÃO
Versão nacional do aparelho, para uso em clínicas e rotulagem de alimentos, custa um terço do valor da importada
Empresa faz analisador de DNA sem laser
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores de uma empresa
em São Carlos, no interior paulista, esperam ter nas mãos até o final do ano um protótipo comercialmente viável de um aparelho
para análise de DNA desenvolvido no Brasil. Os primeiros testes
indicam que a máquina pode ter
bom desempenho em algumas
das aplicações mais comuns da
tecnologia, estimam eles.
"Achamos que será possível patentear o próprio equipamento",
estima o químico Sandro Hillebrand, que fez seu doutorado na
USP de São Carlos e hoje coordena o projeto do aparelho na empresa Cientistas Associados. Um
dos diferenciais do projeto, de
acordo com ele, é dispensar os lasers normalmente utilizados no
procedimento de análise genética,
de forma a baratear o aparelho.
No lugar do laser, a equipe utilizou os modestos LEDs (diodos
emissores de luz, na sigla inglesa),
fontes luminosas do mesmo tipo
das usadas para indicar que um
aparelho eletrônico está ligado,
por exemplo. "Descobrimos que
LEDs de alta potência podem fazer o serviço dos lasers sem problemas", conta Hillebrand.
Mais barato
Em testes com o chamado protótipo de bancada, mais rudimentar, a idéia funcionou. O pesquisador calcula que o aparelho nacional custaria cerca de R$ 100 mil,
contra uns R$ 300 mil dos aparelhos importados de hoje.
A idéia é usar o futuro produto,
que deve ganhar a marca GeneID,
em análises clínicas, de paternidade e de rotulagem de alimentos
transgênicos (os quais possuem
trechos de DNA de outro organismo, como bactérias). No caso, a
luz dos LEDs é responsável por
bater o martelo na análise.
Hillebrand explica que o aparelho não investigará diretamente
as "letras" químicas A, T, C e G
que compõem o DNA. Em vez
disso, ele deve separar os pedaços
de material genético por tamanho, o que já é suficiente para fazer a identificação desejada no caso de um produto transgênico ou
de um teste de paternidade.
Funciona assim: primeiro, os
pesquisadores usam uma reação
química conhecida como PCR,
capaz de criar muitas cópias de
um trecho de DNA desejado (no
caso de um transgênico, parte do
material genético "estranho", digamos). As amostras de DNA são
marcadas com um tipo de corante
fluorescente e colocadas dentro
de capilares (tubos finíssimos do
aparelho de análise). Elas sofrem
a ação de um campo elétrico que
as faz migrar pelo interior deles.
"Os pedaços menores chegam
primeiro e os maiores, depois",
explica o pesquisador. E os LEDs?
"Eles funcionam como os juízes
da corrida", compara ele. A luz
que eles emitem faz os fragmentos brilharem com sua luminosidade fluorescente e diz quais já ultrapassaram a "linha de chegada".
Se a reação de PCR amplificou
realmente o DNA de origem estranha no transgênico, a amostra
terá um tamanho; se o gene forasteiro não estava lá, ela terá outro.
Hillebrand e seus colegas apostam no avanço da interação entre
genética e medicina para ampliar
o mercado de seu produto. Ele diz
acreditar que a farmacogenômica
(o uso de variantes do DNA para
prever a resposta de cada pessoa
aos medicamentos) levará à popularização dos aparelhos.
A equipe trabalha em parceria
com pesquisadores do Instituto
de Física e do Instituto de Química da USP de São Carlos. O projeto recebe apoio financeiro da Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo),
por meio de um programa dedicado a pequenas empresas.
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