São Paulo, sábado, 06 de maio de 2006

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INOVAÇÃO

Versão nacional do aparelho, para uso em clínicas e rotulagem de alimentos, custa um terço do valor da importada

Empresa faz analisador de DNA sem laser

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores de uma empresa em São Carlos, no interior paulista, esperam ter nas mãos até o final do ano um protótipo comercialmente viável de um aparelho para análise de DNA desenvolvido no Brasil. Os primeiros testes indicam que a máquina pode ter bom desempenho em algumas das aplicações mais comuns da tecnologia, estimam eles.
"Achamos que será possível patentear o próprio equipamento", estima o químico Sandro Hillebrand, que fez seu doutorado na USP de São Carlos e hoje coordena o projeto do aparelho na empresa Cientistas Associados. Um dos diferenciais do projeto, de acordo com ele, é dispensar os lasers normalmente utilizados no procedimento de análise genética, de forma a baratear o aparelho.
No lugar do laser, a equipe utilizou os modestos LEDs (diodos emissores de luz, na sigla inglesa), fontes luminosas do mesmo tipo das usadas para indicar que um aparelho eletrônico está ligado, por exemplo. "Descobrimos que LEDs de alta potência podem fazer o serviço dos lasers sem problemas", conta Hillebrand.

Mais barato
Em testes com o chamado protótipo de bancada, mais rudimentar, a idéia funcionou. O pesquisador calcula que o aparelho nacional custaria cerca de R$ 100 mil, contra uns R$ 300 mil dos aparelhos importados de hoje.
A idéia é usar o futuro produto, que deve ganhar a marca GeneID, em análises clínicas, de paternidade e de rotulagem de alimentos transgênicos (os quais possuem trechos de DNA de outro organismo, como bactérias). No caso, a luz dos LEDs é responsável por bater o martelo na análise.
Hillebrand explica que o aparelho não investigará diretamente as "letras" químicas A, T, C e G que compõem o DNA. Em vez disso, ele deve separar os pedaços de material genético por tamanho, o que já é suficiente para fazer a identificação desejada no caso de um produto transgênico ou de um teste de paternidade.
Funciona assim: primeiro, os pesquisadores usam uma reação química conhecida como PCR, capaz de criar muitas cópias de um trecho de DNA desejado (no caso de um transgênico, parte do material genético "estranho", digamos). As amostras de DNA são marcadas com um tipo de corante fluorescente e colocadas dentro de capilares (tubos finíssimos do aparelho de análise). Elas sofrem a ação de um campo elétrico que as faz migrar pelo interior deles.
"Os pedaços menores chegam primeiro e os maiores, depois", explica o pesquisador. E os LEDs? "Eles funcionam como os juízes da corrida", compara ele. A luz que eles emitem faz os fragmentos brilharem com sua luminosidade fluorescente e diz quais já ultrapassaram a "linha de chegada". Se a reação de PCR amplificou realmente o DNA de origem estranha no transgênico, a amostra terá um tamanho; se o gene forasteiro não estava lá, ela terá outro.
Hillebrand e seus colegas apostam no avanço da interação entre genética e medicina para ampliar o mercado de seu produto. Ele diz acreditar que a farmacogenômica (o uso de variantes do DNA para prever a resposta de cada pessoa aos medicamentos) levará à popularização dos aparelhos.
A equipe trabalha em parceria com pesquisadores do Instituto de Física e do Instituto de Química da USP de São Carlos. O projeto recebe apoio financeiro da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), por meio de um programa dedicado a pequenas empresas.


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