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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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AMBIENTE

Mudanças climáticas aceleraram crescimento de plantas na Amazônia

Floresta absorve carbono, diz estudo

CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Para quem ainda consegue ser otimista em relação ao clima do planeta, aí vai uma boa notícia: nas últimas duas décadas, as mudanças climáticas alimentaram o crescimento da floresta amazônica, que absorveu milhões de toneladas de carbono da atmosfera. A conclusão é de um estudo publicado hoje por um grupo dos EUA.
Analisando imagens de satélite produzidas entre 1982 e 1999, o grupo liderado por Ramakrishna Nemani, da Universidade de Montana, descobriu que a produtividade primária cresceu 6% no planeta inteiro nesse período. E a maior contribuição vem justamente da Amazônia: 42%.
"Produtividade primária" é um nome complicado para definir o crescimento das plantas. Com mais luz, água e calor, elas fazem mais fotossíntese, absorvendo carbono (na forma de gás carbônico, ou CO2) e fixando-o na forma de folhas, caule e raízes.
Um aumento de 6% da produtividade primária do planeta significa que as plantas retiraram da atmosfera nada menos que 3,4 bilhões de toneladas de carbono. Só a Amazônia teria sido responsável pela absorção de 1,4 bilhão.
"O estudo mostra uma tendência, da qual já desconfiávamos, de que a Amazônia é um grande limpador da atmosfera", afirmou o biólogo Paulo Moutinho, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Ela estaria absorvendo CO2 lançado no ar por atividades humanas, como a queima de petróleo e derivados.
As respostas da floresta ao aquecimento global e a quantidade de carbono que ela "sequestra" têm gerado debates acalorados entre os cientistas. Até recentemente, achava-se que o efeito estufa (a retenção do calor na atmosfera da Terra por uma capa de gases, como o CO2) fosse estimular o crescimento das plantas só nas florestas frias e temperadas do hemisfério Norte. Nas quentes florestas tropicais, o aumento de temperatura não faria diferença.
A análise do grupo de Nemani, publicada hoje na revista "Science" (www.sciencemag.org), considerou as duas outras variáveis que os primeiros estudos ignoraram: água e luz.
"São as mudanças no regime de chuvas e na cobertura de nuvens que importam na zona tropical", disse Nemani à Folha, por e-mail.
No caso da Amazônia, segundo o pesquisador indiano, o aumento da radiação solar devido à mudança na cobertura de nuvens sobre a floresta causou o crescimento acelerado da vegetação.
"É impressionante como isso bate com nossas medições", disse Antônio Nobre, pesquisador do LBA (Experimento em Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia), que mede o fluxo de carbono na floresta com a ajuda de sensores em torres.
As medições feitas por Nobre indicam que a Amazônia seja um "ralo" de carbono atmosférico. Ele diz, no entanto, que o estudo americano tem uma discrepância, porque fala em redução na cobertura de nuvens, mas não nas chuvas. "Uma possibilidade intrigante é que a Amazônia esteja mais chuvosa à noite", afirma Nemani.
Mas quem encara o novo estudo como um presente de Dia Mundial do Ambiente, comemorado ontem, pode guardar a champanhe: ninguém sabe até quando esse sequestro de carbono vai durar. Dados do LBA indicam que, com o aquecimento global, no futuro a floresta tende a ficar mais inflamável. "Devemos reduzir emissões de gases-estufa, em vez de procurar jeitos de sequestrá-los", conclui Nemani.


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