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AMBIENTE
Mudanças climáticas aceleraram crescimento de plantas na Amazônia
Floresta absorve carbono, diz estudo
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Para quem ainda consegue ser
otimista em relação ao clima do
planeta, aí vai uma boa notícia:
nas últimas duas décadas, as mudanças climáticas alimentaram o
crescimento da floresta amazônica, que absorveu milhões de toneladas de carbono da atmosfera. A
conclusão é de um estudo publicado hoje por um grupo dos EUA.
Analisando imagens de satélite
produzidas entre 1982 e 1999, o
grupo liderado por Ramakrishna
Nemani, da Universidade de
Montana, descobriu que a produtividade primária cresceu 6% no
planeta inteiro nesse período. E a
maior contribuição vem justamente da Amazônia: 42%.
"Produtividade primária" é um
nome complicado para definir o
crescimento das plantas. Com
mais luz, água e calor, elas fazem
mais fotossíntese, absorvendo
carbono (na forma de gás carbônico, ou CO2) e fixando-o na forma de folhas, caule e raízes.
Um aumento de 6% da produtividade primária do planeta significa que as plantas retiraram da
atmosfera nada menos que 3,4 bilhões de toneladas de carbono. Só
a Amazônia teria sido responsável
pela absorção de 1,4 bilhão.
"O estudo mostra uma tendência, da qual já desconfiávamos, de
que a Amazônia é um grande limpador da atmosfera", afirmou o
biólogo Paulo Moutinho, do
Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Ela estaria
absorvendo CO2 lançado no ar
por atividades humanas, como a
queima de petróleo e derivados.
As respostas da floresta ao
aquecimento global e a quantidade de carbono que ela "sequestra"
têm gerado debates acalorados
entre os cientistas. Até recentemente, achava-se que o efeito estufa (a retenção do calor na atmosfera da Terra por uma capa
de gases, como o CO2) fosse estimular o crescimento das plantas
só nas florestas frias e temperadas
do hemisfério Norte. Nas quentes
florestas tropicais, o aumento de
temperatura não faria diferença.
A análise do grupo de Nemani,
publicada hoje na revista "Science" (www.sciencemag.org), considerou as duas outras variáveis
que os primeiros estudos ignoraram: água e luz.
"São as mudanças no regime de
chuvas e na cobertura de nuvens
que importam na zona tropical",
disse Nemani à Folha, por e-mail.
No caso da Amazônia, segundo
o pesquisador indiano, o aumento da radiação solar devido à mudança na cobertura de nuvens sobre a floresta causou o crescimento acelerado da vegetação.
"É impressionante como isso
bate com nossas medições", disse
Antônio Nobre, pesquisador do
LBA (Experimento em Grande
Escala da Biosfera-Atmosfera na
Amazônia), que mede o fluxo de
carbono na floresta com a ajuda
de sensores em torres.
As medições feitas por Nobre
indicam que a Amazônia seja um
"ralo" de carbono atmosférico.
Ele diz, no entanto, que o estudo
americano tem uma discrepância,
porque fala em redução na cobertura de nuvens, mas não nas chuvas. "Uma possibilidade intrigante é que a Amazônia esteja mais
chuvosa à noite", afirma Nemani.
Mas quem encara o novo estudo como um presente de Dia
Mundial do Ambiente, comemorado ontem, pode guardar a
champanhe: ninguém sabe até
quando esse sequestro de carbono vai durar. Dados do LBA indicam que, com o aquecimento global, no futuro a floresta tende a ficar mais inflamável. "Devemos
reduzir emissões de gases-estufa,
em vez de procurar jeitos de sequestrá-los", conclui Nemani.
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