São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2005

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ARQUEOLOGIA

Datação controversa veio de cinza vulcânica

Grupo afirma ter achado pegada humana de 40 mil anos no México

Universidade Bournemouth/Associated Press
Pegada fica em Puebla, 130 km a sudeste da capital mexicana


REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Se escapar do bombardeio ao qual está sendo submetido, um achado divulgado anteontem por pesquisadores do Reino Unido poderá mudar a história da ocupação humana da América. Segundo eles, pegadas de pessoas descobertas no centro do México teriam 40 mil anos -embora os registros mais antigos de presença humana no continente não ultrapassem os 13 mil anos.
A equipe, liderada pela geoarqueóloga mexicana Silvia González, da Universidade Liverpool John Moores, achou os rastros na beira de um antigo lago assolado por chuvas de cinza vulcânica. Imagina-se que, depois de um desses episódios, um grupo de pessoas (entre as quais crianças, a julgar pelas dimensões das pegadas) teria caminhado sobre a cinza, deixando sua marca.
Usando uma série de métodos diferentes, o grupo britânico datou fósseis de animais no mesmo nível da pegada, assim como sedimentos em volta da própria, chegando à data de por volta de 40 mil anos antes do presente. Hoje, o sítio arqueológico das Américas mais antigo cujas datas são aceitas pelos cientistas é Monte Verde, no extremo sul do Chile, com seus 12,5 mil anos. Poucos pesquisadores põem em dúvida a idéia de que os primeiros americanos cruzaram o estreito de Bering, vindos do extremo nordeste da Ásia, para chegar ao Novo Mundo.
"Novas rotas de migração que expliquem a existência desses sítios muito mais antigos precisam ser consideradas. Nossos achados reforçam a teoria de que esses primeiros colonos tenham vindo pela água, usando a rota da costa do Pacífico", disse González em comunicado. A pesquisa foi apresentada na Exibição de Verão da Royal Society, em Londres.
"Nunca se deve dar a conhecer um achado tão importante numa entrevista coletiva", critica o antropólogo argentino Rolando González-José, do Centro Nacional Patagônico. O pesquisador já chegou a estudar os antigos mexicanos junto com a arqueóloga, mas teve "divergências inconciliáveis" com ela. "Uma data de 40 mil anos não necessariamente leva a modelos alternativos do povoamento, muito menos recorrendo a rotas transpacíficas", diz.
Também há a questão do método usado para datar a cinza vulcânica, a luminescência opticamente estimulada. Nele, alterações graduais na distribuição de elétrons do material são usadas para estimar a idade dele com a ajuda de um feixe de luz. Segundo a física Sonia Tatumi, da Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo), "seria preciso extrair material a uns 15 centímetros da superfície para ter dados confiáveis". A margem de erro costuma ser de 10%.


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