São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006

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"Guarda-sol" poderá revelar novas Terras

Ocultador proposto por cientista bloquearia luz de estrelas e permitiria fazer imagem de planeta fora do Sistema Solar

Idéia é acoplar aparelho ao Telescópio Espacial James Webb, a ser lançado em 2013; achar vida alienígena é um dos alvos do projeto


Divulgação
Concepção artística de planeta fora do Sistema Solar


REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Para um cientista nos Estados Unidos, o melhor jeito de resolver o enigma mais espinhoso da ciência do século 21 é usar um guarda-sol. Aliás, um guarda-estrela, com uns 50 m de diâmetro e forma de flor, capaz de bloquear a luz de astros distantes e revelar pela primeira vez planetas gêmeos da Terra fora do Sistema Solar.
A ousada proposta de Webster Cash, da Universidade do Colorado em Boulder, está na edição de hoje da revista científica britânica "Nature" (www.nature.com). "O importante é que se trata de algo que a gente pode olhar e dizer: OK, vai ser caro, mas dá para fazer isso com a tecnologia atual", disse Cash à Folha. "Vai ser possível ver o disco do planeta, seus oceanos e continentes, e procurar sinais de vida em sua atmosfera", prevê ele.
A empolgação não é mero papo de pai-coruja. O maior caçador de planetas fora do Sistema Solar, Geoffrey Marcy, da Universidade da Califórnia em Berkeley, diz considerar a idéia "brilhante, empolgante e engenhosa" e afirma que ela "provavelmente funcionaria".
Cash tem até uma data na cabeça para pôr à prova o seu "guarda-estrela" em forma de margarida: algum momento de 2013, quando a Nasa planeja lançar seu novo e melhorado telescópio espacial, o James Webb. Mais uma vantagem da idéia, argumenta Cash, já que seu ocultador, como o guarda-sol espacial é chamado, só aproveitaria um telescópio usado para outros fins.
Comparada com a concorrência, a idéia de Cash é até simples. Os cientistas ainda estão tateando nas tentativas de obter imagens diretas de um planeta fora do Sistema Solar -ainda mais um pequeno, do tamanho da Terra. Hoje, eles são quase sempre detectados de forma indireta: alterações na gravidade da estrela ao redor da qual giram ou uma ligeira diminuição do brilho dela.
E tudo isso porque o brilho estelar é dezenas de bilhões de vezes mais intenso que o de um planeta terrestre. Uma das propostas para driblar isso é usar uma frota de telescópios espaciais, dotados de um sistema que "sincroniza" os raios de luz da estrela de maneira a cancelá-los mutuamente e deixar o planeta aparecer. Ótima idéia, mas um bocado cara.
A proposta de Cash é simplesmente impedir, à distância, que a luz estelar deixe o James Webb cego. A "margarida", aberta entre a estrela e o telescópio a uma distância de uns 25 mil km do instrumento, bloquearia a luz e permitiria fazer imagens diretas dos planetas. "Se você usasse um simples disco para tapar a estrela, parte da luz tenderia a convergir de volta para o telescópio", explica ele. "A estrutura em pétalas impede que isso ocorra."
O pesquisador e seus colegas querem US$ 400 milhões da Nasa para desenvolver a proposta. Mas ainda há muitos desafios a resolver, diz Geoffrey Marcy. "O principal deles é manobrar o ocultador por milhares de quilômetros e mantê-lo estático no espaço, com precisão de metros", lembra ele.


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