São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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"Curioso" Vandelli ganha exposição histórica no Rio

Criador das "viagens filosóficas" ao Brasil, naturalista é lembrado no aniversário de 200 anos do Jardim Botânico

Próximo de dom João, intelectual influenciou a corte a fugir para os trópicos e criou os primeiros museus lusitanos de história natural

Rafael Andrade/Folha Imagem
Visitantes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro observam desenhos do naturalista italiano Domenico Vandelli (1735-1816) em exposição que inaugurou o Museu do Meio Ambiente, anteontem

CAIO JOBIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Nas comemorações de seus 200 anos, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro abriu sexta-feira para visitantes o Museu do Meio Ambiente com a exposição "O gabinete de curiosidades de Domenico Vandelli", em homenagem ao criador dos primeiros jardins botânicos e museus de história natural em Portugal. Foi ele o idealizador, no final do século 18, das "viagens filosóficas" ao Brasil.
Vandelli (1735-1816), naturalista italiano que havia trocado Pádua por Lisboa a convite do marquês de Pombal, foi o idealizador das expedições científicas patrocinadas pela coroa portuguesa que vinham à colônia para pesquisar, relatar e catalogar a natureza brasileira.
Mesmo que nunca tenha vindo ao Brasil, sua influência não se limitou à ciência. Vandelli era muito próximo do príncipe regente dom João e foi um dos conselheiros da Corte que o orientou a partir para o Rio de Janeiro antes que Napoleão invadisse Lisboa. O primeiro Jardim Botânico de Portugal foi inaugurado em 1768, com projeto do próprio Vandelli.
Imediatamente após a chegada da família real, dom João, para quem o jardim da Ajuda havia sido criado, fundou o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde agora foi inaugurado o Museu do Meio Ambiente.
"A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) financiou uma pesquisa em que foram digitalizados o acervo de Vandelli, que estava espalhado no Brasil, em Portugal e na França. Esse material virou uma caixa que reúne 8 livros e 16 cartazes (leia em texto à direita) e agora, por ocasião da abertura do Museu do Meio Ambiente, montamos esta exposição", afirma Anna Paula Martins, a curadora da mostra.
Precursores dos museus, os gabinetes de curiosidades eram lugares em que os colecionadores dos séculos 17 e 18 reuniam elementos diversos encontrados na natureza, mas sem qualquer tipo de catalogação. A exposição se propõe a reconstituir parte do espaço dos antigos gabinetes para oferecer aos visitantes a perspectiva da história natural e do ambiente brasileiro por meio dos registros de Vandelli e seus discípulos.
Em uma das salas se lê: "Museu é como um livro aberto". "Como essa exposição partiu de um trabalho de pesquisa, a idéia é que as palavras-chave saiam dos livros e ganhem as paredes, que as ilustrações ampliadas ganhem outra dimensão", diz Martins.
Aos manuscritos originais e às reproduções são contrapostas projeções em vídeo de sementes e mudas do dragoeiro -uma planta originária das Canárias que foi dissecada por Vandelli em seus estudos. O catálogo é organizado em fichas que podem ser manuseadas pelos visitantes. Em todos os ambientes se ouve uma trilha sonora permanente criada a partir de sons do Jardim Botânico.
Na mostra, uma obra do artista plástico Luiz Zerbini propõe uma reflexão da representação da natureza pela arte. "É significativo que o Vandelli nunca tenha vindo ao Brasil. Ele imaginou o país pela representação, que é a matéria-prima de um artista", diz Martins.
De um lado, uma parede verde composta por plantas vivas. Do outro, um quadro cuja textura resulta em um espelho de baixa definição, "como se fosse "pixelizado" e fora de foco, que reflete ao mesmo tempo a natureza e o homem" explica Zerbini. "Antigamente, não existia essa divisão entre cientistas e artistas", diz.


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