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Periscópio
Alga formada por duas
José Reis
especial para a Folha
Pesquisadores canadenses do Instituto de Ciências Marinhas de Halifax,
na Nova Escócia, demonstraram em artigo publicado na revista "Nature" (350,
148) que cada alga unicelular do gênero
Cryptomonas na verdade resulta da fusão de dois organismos, um dos quais
englobou o outro ao longo da evolução.
A equipe que realizou o estudo foi dirigida por Susan Douglas. O englobamento de uma célula por outra, formando
uma unidade, não é novidade e, no caso
de Cryptomonas, já fora previsto por
Sally Gibbs, da McGill University, há dez
anos, mas só agora surgiu a confirmação.
É hoje corrente em biologia, após haver
sido muito contestada inicialmente, a
noção de que certas organelas celulares,
como mitocôndrias e cloroplastos, são
remanescentes de células que em tempos
idos foram ingeridas por célula mais desenvolvida. Dá-se a esta o nome de hospedeira e o de endossimbiontes às organelas que outrora teriam sido livres.
Há porém uma diferença entre os dois
fenômenos, ressalta Roger Lewin, na
"New Scientist". Na célula comum o hospedeiro é eucarionte, isto é, possui núcleo bem definido no qual se encontra
organizado o material genético, ao passo
que em Cryptomonas tanto o hospedeiro
quanto a célula englobada são eucariontes. Por isso, a alga possui, ao lado do núcleo normal, uma estrutura, o nucleomorfo, que parece um núcleo afilado.
Além dessa peculiaridade, os cloroplastos de Cryptomonas possuem dois
pigmentos fotossintéticos diferentes. O
nucleomorfo, descrito há 25 anos, contém DNA e RNA (ácidos nucléicos que
participam da transmissão dos fatores
genéticos), como o núcleo normal. Não
existe entretanto prova completa, mas
apenas suspeita, de que o nucleomorfo
seja resíduo do núcleo da célula eucarionte que teria sido absorvida pela que
hoje é a Cryptomonas.
Para suas experiências, o grupo canadense valeu-se da reação em cadeia da
polimerase (PCR), que tem a capacidade
de replicar ao infinito minúsculos fragmentos do DNA específico da alga, assim
permitindo a obtenção de material suficiente para pesquisa.
Douglas e colaboradores fizeram então
o sequenciamento de um gene ribossômico. Os ribossomos são organelas sintetizadoras. Sequenciamento é a identificação dos ácidos animados do DNA, na
ordem em que se encontram. Ao contrário do que geralmente ocorre, os pesquisadores descobriram que a Cryptomonas
possui, em vez de um, dois genes do tipo
sequenciado. Um deles é do tipo que
normalmente se encontra no grupo fotossintético que abrange certas algas verdes e plantas terrestres. O outro é semelhante ao gene ribossômico das algas
vermelhas, grupo mais primitivo.
O primeiro gene provém do núcleo de
Cryptomonas e o segundo deve originar-se do nucleomorfo, de acordo com a versão de Douglas, para quem a história da
alga abrange dois fatos evolucionários.
No primeiro, um hospedeiro eucarionte
teria incorporado uma célula procarionte (sem núcleo definido e com material
genético difuso) fotossintética, resultando da união uma alga vermelha primitiva. Na segunda fase, a alga vermelha teria sido incorporada a um hospedeiro
eucarionte diferente, dando como resultado a atual Cryptomonas.
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