São Paulo, quarta-feira, 06 de setembro de 2006

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Desmatamento na Amazônia cai pelo 2º ano consecutivo

Segundo projeção do Inpe, queda em 2005-2006 é de 11% em relação ao biênio anterior; Pará tem aumento de 50%

Dado consolidado para o biênio 2004-2005 confirma a queda de 31% estimada no ano passado; para ONGs, número ainda é alto demais

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério do Meio Ambiente anunciou ontem uma estimativa de queda na taxa de desmatamento da Amazônia para o biênio 2005-2006, o que deve acontecer pelo segundo ano consecutivo.
Segundo os dados do programa Deter, sistema do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que monitora em tempo real a Amazônia e permite projeção de tendências, o índice de desflorestamento de agosto de 2005 a julho deste ano deve apresentar uma redução de cerca de 11% em relação ao período anterior -de agosto de 2004 a julho de 2005 (veja quadro à direita).
O Deter, no entanto, não é usado para o cálculo oficial do desmatamento. Isso cabe a outro sistema do Inpe, o Prodes. A cifra consolidada do Prodes para o biênio 2004-2005, também divulgada ontem, confirmou o desmatamento de 18.793 km2, representando uma diminuição de 31,5% em relação ao biênio anterior. A projeção anterior era de 18.900 km2.
A última queda confirmada no índice havia ocorrido de 1995-1996 para 1996-1997, quando o volume de floresta derrubada caíra 27%.
Com isso, a Amazônia acumula 699.625 km2 de área devastada, o que representa 17,5% do total da floresta. É um território pouco maior que Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro juntos.
A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) voltou a comemorar a redução de 31,5%, já prevista em 2005, chamando-a de "altamente significativa". Ao comentar a tendência do biênio, completou: "Mostra que não é queda episódica nem espasmódica. A situação começa a ter governança, e a decisão é não baixar a guarda".

Comando e controle
Entre os motivos para esse resultado, o governo aponta o aumento das multas e da fiscalização -com 13 operações conjuntas da Polícia Federal e Ibama desde 2003-, além da criação de mais 194.404 km2 de unidades de conservação federais, o equivalente ao Paraná.
Também aparecem na lista a homologação de 93 mil km2 de terras indígenas e a limitação administrativa às margens da BR-163 (Cuiabá-Santarém).
Na soma das ações da PF já está contabilizada a realizada ontem e batizada de Operação Daniel (leia texto abaixo).
O secretário de Biodiversidade e Florestas do ministério, João Paulo Capobianco, diz que, com as projeções de queda para o biênio 2005-2006, a área derrubada deve variar de cerca de 16.700 km2 a 18.700 km2, em um pior cenário.
Dos três Estados que mais despertam preocupação, já que são responsáveis por mais de 85% da área derrubada na Amazônia Legal nos últimos estudos, Mato Grosso foi o que apresentou melhor resultado. Teve uma queda de 40% no índice confirmado para o biênio 2004-2005 e mantém a tendência de redução na casa dos 34% para 2005-2006.
Parte da queda pode ser explicada pela crise do agronegócio de 2005, que freou o ímpeto dos sojicultores locais.
Já o Pará, apesar de ter apresentado queda de 32% no biênio 2004-2005, aparece nas projeções do sistema Deter com aumento do desmate.
"Isso preocupa porque mostra que a degradação está se movendo para outras áreas no Estado", afirma Capobianco. Entre as áreas onde o desmatamento voltou a acontecer no Pará está a divisa com o Maranhão, onde existe derrubada para a produção de lenha para siderúrgicas, e o eixo da BR-163, cuja margem esquerda havia sido objeto de limitação administrativa provisória. Com o fim da interdição, no ano passado, o desmate voltou.
A ministra Marina Silva fala em "acirramento da ação predatória" em regiões da Amazônia Legal, porém diz que o poder público vem dando "resposta incisiva" ao problema.


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