São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2007

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Lasca de trombada cósmica matou os dinos, diz estudo

Colisão entre asteróides ocorrida há 160 milhões de anos produziu bólido que causaria extinção há 65 milhões de anos

Trio dos EUA e da República Tcheca diz estar 90% certo de ter achado "assassino'; destino dos répteis estava selado no auge da evolução

DA REDAÇÃO

O destino trágico dos dinossauros estava selado muito antes que a maioria deles tivesse sequer chegado a aparecer. Um estudo publicado hoje revela que o asteróide que eliminou os grandes répteis há 65 milhões de anos foi resultado de um evento cósmico ocorrido 160 milhões de anos atrás.
Naquela época, quando os dinos começavam a conquistar o planeta, uma rocha de 60 quilômetros de diâmetro bateu em outra com três vezes esse tamanho em algum lugar entre as órbitas de Marte e Júpiter. O impacto esfacelou o pedregulho maior, lançando milhares de lascas pelo espaço.
Esse evento casual teve conseqüências profundas para a história da Terra. Uma dessas lascas, com cerca de 10 quilômetros de diâmetro, passou 95 milhões de anos vagando pelo Sistema Solar, até ser atraída pela gravidade terrestre e despencar sobre a península de Yucatán, no México.
O bólido abriu uma cratera de 200 quilômetros, causou um tsunami de um quilômetro de altura, incêndios em continentes inteiros, um inverno nuclear e depois um efeito estufa colossal. O choque exterminou mais de metade das espécies do planeta, numa das maiores hecatombes da história da vida. Muitos cientistas acreditam que a colisão, que encerrou o Período Cretáceo e a era dos dinossauros, abriu mais tarde o caminho para o triunfo evolutivo dos mamíferos -nós.
Os cientistas já haviam reconstruído a tragédia ocorrida na Terra com uma precisão razoável. No entanto, até agora a identidade do assassino dos dinossauros permanecia desconhecida. Na edição de hoje da revista científica "Nature" (www.nature.com), um trio de astrônomos apresenta a possível solução do mistério: o choque de 160 milhões de anos atrás, que criou a chamada família de asteróides Baptistina, produziu a pedra letal.

"Famiglia" fatal
Usando um modelo de computador, o americano William Bottke e os tchecos David Vokorouhlicky e David Nesvorny calcularam que há 90% de chance de um dos membros dessa família de pedregulhos espaciais ter se desgarrado de sua órbita e produzido a cratera de Chicxulub -onde, acredita-se, tenha caído o bólido do Cretáceo. Não só isso: há também 70% de chance de outro fragmento da mesma família ter formado a cratera de Tycho (aquele "umbigo" da Lua, que pode ser visto da Terra com um bom par de binóculos). E 80% de chance de que algum Baptistina delinqüente tenha aberto rombos em Vênus e Marte.
"Acho que eles apresentam evidências muito interessantes e uma argumentação sólida", disse o astrônomo Richard Binzel, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA, especialista em meteoritos.
Os cientistas usaram computadores para reconstituir a órbita dos milhares de asteróides da família Baptistina até o momento de sua formação.
Um fato que ajudou a relacionar um Baptistina com o cataclismo do Cretáceo foi o fato de essa família ser de um tipo raro, conhecido como condritos carbonáceos, ricos em água e materiais orgânicos.
"Das oito crateras na Terra que têm mais de 1 quilômetro de diâmetro (implicando um projétil de mais de 50 metros de comprimento) e menos de 200 milhões de anos de idade e cuja composição foi identificada, Chicxulub é a única formada por um condrito carbonáceo", escreveram em comentário ao estudo na "Nature" os astrônomos Philippe Claeys e Steven Goderis, da Universidade Vrije, na Bélgica.


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