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PROGRAMA NUCLEAR
País passa a preparar seu minério
Brasil começa enriquecimento de urânio para usinas Angra 1 e 2
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O Brasil começará a produzir
industrialmente urânio enriquecido para utilização nas usinas
nucleares de Angra 1 e 2 a partir
de 2004. O anúncio será feito hoje
à tarde pelo ministro da Ciência e
Tecnologia, Roberto Amaral, no
Rio de Janeiro.
Hoje em dia, o minério de urânio que sai de Catité (BA) para ser
utilizado nas usinas nucleares
brasileiras é antes mandado para
o Canadá e para a Europa, a fim
de que possa ser enriquecido.
Através da substituição de importações, técnicos da INB (Indústrias Nucleares do Brasil), empresa vinculada ao MCT que responde pela exploração e beneficiamento do urânio no país, estimam que o Brasil possa chegar a
economizar cerca de US$ 19 milhões a cada 14 meses.
A tecnologia de ultracentrifugação, que permite o enriquecimento do urânio em escala industrial,
foi desenvolvida pelo Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e
Nucleares), em conjunto com o
Centro Tecnológico da Marinha
de São Paulo. Com isso, o Brasil
passa a ser o sétimo país no mundo a dominar a técnica, ao lado de
Rússia, China, Japão, Holanda,
Alemanha e Inglaterra. Os EUA e
a França utilizam outra técnica
para enriquecer o minério, a difusão gasosa.
O Brasil já possuía uma tecnologia de enriquecimento de urânio
desde a década de 80, mas ela não
possibilitava a produção em
quantidade suficiente para alimentar usinas nucleares.
"A energia nuclear é muito importante", disse o ministro à Folha. "O Brasil precisa de fontes de
energia alternativas à hidrelétrica.
Não podemos nos dar ao luxo de
ignorar que temos uma das maiores reservas de urânio do mundo", afirmou Amaral.
Além da produção interna de
energia, o ministro planeja explorar o mercado externo através da
exportação do minério enriquecido. "Trata-se de um produto com
grande valor agregado. Depois de
abastecer nossas usinas, nosso
plano é exportar para países como os EUA, que vêm aumentando seu interesse na energia nuclear", diz o ministro. Segundo o
diretor da INB Samuel Faiad, o
potencial de exportações deve
atingir US$ 12,5 milhões ao ano.
O urânio será utilizado basicamente para a obtenção de energia,
além de algumas outras aplicações previstas no programa nuclear, como a medicina nuclear e a
irradiação de alimentos. A ultracentrifugação enriquece o urânio
de 0,7% para 0,9%, o que é insuficiente para a confecção de uma
bomba atômica, que precisa de
metal enriquecido a mais de 90%.
O programa nuclear brasileiro,
que foi criado em 1967 pelo então
presidente Costa e Silva, já produziu duas usinas: Angra 1, em 1985,
e Angra 2, em 2000. Segundo o
ministro Amaral, as duas produzem hoje cerca de 57% da energia
consumida pelo mercado do Rio
de Janeiro.
O enriquecimento consiste em
aumentar no urânio-238, não radioativo, a concentração de urânio-235, radioativo. Isso é necessário porque o núcleo do 238 não
sofre a fissão (cisão) necessária à
produção de energia, como ocorre com o 235. Enriquecimento
não é reação química: consiste na
separação física das variáveis do
mesmo elemento, via aceleração.
Na ultracentrifugação, isso se faz
em uma máquina que gira a 70
mil rotações por minuto.
(MVM)
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