São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2005

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PALEONTOLOGIA

Estudo sugere fase de transição de espécies

Brasileiros descrevem duas novas espécies de pterossauro da China

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O paleontólogo Alexander Kellner entre modelos de pterossauros chineses descobertos por ele


DA REPORTAGEM LOCAL

Os animais não eram exatamente bibelôs, com seus bicos protuberantes e cheios de dentes, mas estão colocando uma peça intrigante na história dos pterossauros, os répteis voadores da era dos dinos. Trata-se de duas novas espécies do grupo, encontradas em Jehol, na China, e descritas por brasileiros e chineses.
O Feilongus youngi e o Nurachius ignaciobritoi, ambos com cerca de 2,5 m (estimados) da ponta de uma asa à outra, estão sendo apresentados hoje à comunidade científica, num artigo na revista britânica "Nature" (www.nature.com). Para Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e seus colegas, os bichos são a prova viva (ou melhor, fóssil) de uma grande transição entre os grupos de pterossauros, e também do nicho ocupado por esses répteis há 125 milhões de anos. A divisão seria mais ou menos assim: pterossauros ficam com as regiões costeiras, e as aves (que já existiam), com o interior.
"Quase todos os depósitos com pterossauros no mundo vêm de ambientes costeiros. Essa região da China é interessante porque ela é totalmente continental, mas contém pterossauros. Tanto no número de fósseis quanto no de espécies, as aves são muito mais numerosas", disse Kellner à Folha. De fato, há 40 restos de pterossauros contra mais de 1.000 de aves, e 26 espécies de pássaro contra 16 do grupo de répteis alados.
Os bichos descritos por Kellner e companhia são bastante peculiares, em especial o F. youngi. Além de possuir duas pequenas cristas, ele tem o maxilar superior mais comprido que o inferior, coisa nunca vista em pterossauros com dentes, como ele. "Eu adoraria explicar isso, mas se dissesse que sei o porquê estaria chutando", brinca Kellner. Ele diz que chegou a achar que tinha errado nas medidas ao redesenhar o animal no computador.
O paleontólogo estima que as duas criaturas se alimentavam tanto de peixes quanto de insetos. O F. youngi é mais primitivo, o que levou o grupo a propor que a região de origem dos bichos documenta uma transição entre dois grandes grupos desses répteis.
Não é o que pensa o paleontólogo David Unwin, do Museu de História Natural de Berlim. "Não há grande mudança, só um ou dois animais primitivos desaparecendo", diz ele. Unwin também classificou a interpretação sobre a divisão ecológica entre aves e pterossauros de "bobagem".
"De acordo com os dados dos próprios autores, o conjunto de Jehol contém pelo menos 16 tipos diferentes de pterossauro. É um grau espetacular de diversidade e mostra, ao contrário das afirmações deles, que os pterossauros estavam bem estabelecidos em ambientes terrestres", diz ele.
Kellner reagiu com naturalidade à provocação. "Se não houvesse nenhuma contestação, eu ficaria frustrado. No momento, considero que a nossa idéia é válida", diz. Os bichos chineses ainda devem dar o que falar. Resta explicar, por exemplo, como eles têm parentesco com animais do Brasil, embora vivessem em supercontinentes diferentes. (RJL)


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