São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2005

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Pesquisa não objetivava aplicações práticas, diz americano vencedor

DA REPORTAGEM LOCAL

Robert Grubbs, 63, atendeu o telefone do outro lado do mundo para falar com a reportagem da Folha. O químico do Caltech está passando um mês na Universidade de Canterbury, em Christchurch (Nova Zelândia), onde profere uma série de palestras.
"Você nunca acha que essas coisas vão acontecer com você", disse Grubbs, aparentando cansaço e com forte sotaque do Kentucky, Estado-símbolo da vida rural nos EUA). Confira a entrevista. (RJL)
 

Folha - O sr. esperava ser premiado algum dia?
Robert Grubbs -
Não, de jeito nenhum. Você nunca acha que essas coisas vão acontecer com você.

Folha - Como acha que a área desbravada pelo seu trabalho vai se desenvolver daqui para a frente?
Grubbs -
Bem, espero que ainda tenhamos muito trabalho pela frente! É possível melhorar bastante os catalisadores que já temos hoje, dando a eles mais seletividade, para reagir de forma mais específica com os compostos nos quais estamos interessados.

Folha - Nos últimos anos, a indústria farmacêutica parece estar seguindo um caminho aparentemente inverso ao que o seu trabalho propiciou. Há muita gente procurando moléculas de interesse diretamente na natureza, ao invés de criar novas opções em laboratório. Como o sr. vê isso?
Grubbs -
Na verdade, acho que são estratégias que se complementam, porque a metátese [nome dado ao processo que o químico ajudou a desenvolver] permite que você realize modificações controladas em materiais e moléculas naturais, e numa escala grande. Da mesma maneira, a maioria dos compostos que podem ter interesse nessa área contêm ligações duplas [entre átomos de carbono], que são o foco das técnicas de metátese.

Folha - Já conseguiu pensar no que fazer com o dinheiro?
Grubbs -
De jeito nenhum (risos). Não tive tempo para isso ainda. Não parei de falar ao telefone, seja com repórteres, seja com meus filhos, com os quais já comemorei o prêmio.

Folha - O sr. acha que um prêmio como esse é capaz de inspirar jovens cientistas a seguir sua trilha?
Grubbs -
Não sei, mas espero que eles sejam capazes de fazer o que eu consegui fazer: trabalhar numa área intrigante e passar com tranqüilidade os anos necessários para estudá-la profundamente. Sabe, quando nós começamos, a nossa motivação era basicamente a curiosidade de entender como a coisa acontecia. Foi assim que o pessoal dos primeiros passos dos estudos sobre catalisadores, entre os quais se encontram os meus colegas que ganharam o prêmio, acabaram chegando lá.


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