|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pesquisa não objetivava aplicações práticas, diz americano vencedor
DA REPORTAGEM LOCAL
Robert Grubbs, 63, atendeu o
telefone do outro lado do mundo
para falar com a reportagem da
Folha. O químico do Caltech está
passando um mês na Universidade de Canterbury, em Christchurch (Nova Zelândia), onde
profere uma série de palestras.
"Você nunca acha que essas coisas vão acontecer com você", disse Grubbs, aparentando cansaço e
com forte sotaque do Kentucky,
Estado-símbolo da vida rural nos
EUA). Confira a entrevista.
(RJL)
Folha - O sr. esperava ser premiado algum dia?
Robert Grubbs - Não, de jeito nenhum. Você nunca acha que essas
coisas vão acontecer com você.
Folha - Como acha que a área desbravada pelo seu trabalho vai se
desenvolver daqui para a frente?
Grubbs - Bem, espero que ainda
tenhamos muito trabalho pela
frente! É possível melhorar bastante os catalisadores que já temos hoje, dando a eles mais seletividade, para reagir de forma mais
específica com os compostos nos
quais estamos interessados.
Folha - Nos últimos anos, a indústria farmacêutica parece estar seguindo um caminho aparentemente inverso ao que o seu trabalho
propiciou. Há muita gente procurando moléculas de interesse diretamente na natureza, ao invés de
criar novas opções em laboratório.
Como o sr. vê isso?
Grubbs - Na verdade, acho que
são estratégias que se complementam, porque a metátese [nome dado ao processo que o químico ajudou a desenvolver] permite que você realize modificações controladas em materiais e
moléculas naturais, e numa escala
grande. Da mesma maneira, a
maioria dos compostos que podem ter interesse nessa área contêm ligações duplas [entre átomos
de carbono], que são o foco das
técnicas de metátese.
Folha - Já conseguiu pensar no
que fazer com o dinheiro?
Grubbs - De jeito nenhum (risos). Não tive tempo para isso ainda. Não parei de falar ao telefone,
seja com repórteres, seja com
meus filhos, com os quais já comemorei o prêmio.
Folha - O sr. acha que um prêmio
como esse é capaz de inspirar jovens cientistas a seguir sua trilha?
Grubbs - Não sei, mas espero que
eles sejam capazes de fazer o que
eu consegui fazer: trabalhar numa
área intrigante e passar com tranqüilidade os anos necessários para estudá-la profundamente. Sabe, quando nós começamos, a
nossa motivação era basicamente
a curiosidade de entender como a
coisa acontecia. Foi assim que o
pessoal dos primeiros passos dos
estudos sobre catalisadores, entre
os quais se encontram os meus
colegas que ganharam o prêmio,
acabaram chegando lá.
Texto Anterior: Dança de moléculas rende Nobel para trio Próximo Texto: Paleontologia: Brasileiros descrevem duas novas espécies de pterossauro da China Índice
|