São Paulo, sexta-feira, 06 de novembro de 2009

Texto Anterior | Índice

Empresa lê genoma completo por US$ 4.400

Barateamento reacende debate sobre privacidade

RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL

É de bater qualquer preço: cientistas conseguiram analisar o genoma inteiro de um ser humano por um preço médio de US$ 4.400 (R$ 7.500). Para comparar, quando se fez isso pela primeira vez, entre 1990 e 2003, custou US$ 3 bilhões. Ultimamente, o preço era de cerca de US$ 100 mil.
O novo método de sequenciamento barato foi desenvolvido pela empresa de biotecnologia Complete Genomics e está descrito em estudo na revista "Science". Os pesquisadores sequenciaram o genoma de três pessoas para o trabalho.
O barateamento desse sequenciamento pode mudar a medicina, pois todas as predisposições hereditárias a doenças estão no genoma. Isso não significa, porém, que bastam US$ 4.400 para saber tudo que você tem tendência a desenvolver.
Isso porque ainda se sabe pouco o que cada gene faz. Poucas doenças já estão relacionadas a determinados genes.
Para explicar, Fernando Reinach, biólogo e diretor da Votorantim Novos Negócios, sugere que se imagine que, assim como não se entende o genoma, não se entendesse o sangue.
"Aí um dia você faz uma análise sanguínea. O médico até sabe se você tem muitas ou poucas hemácias, mas ficaria sem saber o que isso diz. O genoma é assim. Há um monte de dados, mas não sabemos interpretar."
A questão é que, para associar genes e doenças, os cientistas precisam comparar o genoma de muitas pessoas e procurar padrões entre os doentes. E, com o sequenciamento ficando barato, vai ficar fácil aumentar esse banco de dados genético.
"A tendência agora é a coisa explodir", diz Sandro Souza, biólogo do Instituto Ludwig.
No futuro, a ideia é que os medicamentos personalizados se tornem comuns. "Você faz um teste genético para avaliar se vai responder bem a determinada droga", diz Souza.
O barateamento do genoma também levantou questionamentos bioéticos. Se for possível saber quem pode ficar doente, isso não poderia ser usado para discriminar pessoas num concurso para emprego ou para planos de saúde justificarem mensalidades caras?
"Isso é uma falácia. Já há um monte de coisas que o empregador pode olhar. Todo mundo que tem barriga grande tem mais chance de morrer do coração, as mulheres podem engravidar, há gente com colesterol alto", diz Reinach.
Para Souza, já é hora de surgir uma legislação sobre isso."Estamos muito atrasados. Não existe nenhum debate aqui no Brasil. Estamos engatinhando e não há perspectiva".


Texto Anterior: Governo deve esperar, diz indústria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.