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Empresa lê genoma completo por US$ 4.400
Barateamento reacende debate sobre privacidade
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL
É de bater qualquer preço:
cientistas conseguiram analisar o genoma inteiro de um ser
humano por um preço médio
de US$ 4.400 (R$ 7.500). Para
comparar, quando se fez isso
pela primeira vez, entre 1990 e
2003, custou US$ 3 bilhões. Ultimamente, o preço era de cerca de US$ 100 mil.
O novo método de sequenciamento barato foi desenvolvido pela empresa de biotecnologia Complete Genomics e está descrito em estudo na revista
"Science". Os pesquisadores sequenciaram o genoma de três
pessoas para o trabalho.
O barateamento desse sequenciamento pode mudar a
medicina, pois todas as predisposições hereditárias a doenças
estão no genoma. Isso não significa, porém, que bastam US$
4.400 para saber tudo que você
tem tendência a desenvolver.
Isso porque ainda se sabe
pouco o que cada gene faz. Poucas doenças já estão relacionadas a determinados genes.
Para explicar, Fernando Reinach, biólogo e diretor da Votorantim Novos Negócios, sugere
que se imagine que, assim como não se entende o genoma,
não se entendesse o sangue.
"Aí um dia você faz uma análise sanguínea. O médico até sabe se você tem muitas ou poucas hemácias, mas ficaria sem
saber o que isso diz. O genoma é
assim. Há um monte de dados,
mas não sabemos interpretar."
A questão é que, para associar genes e doenças, os cientistas precisam comparar o genoma de muitas pessoas e procurar padrões entre os doentes. E,
com o sequenciamento ficando
barato, vai ficar fácil aumentar
esse banco de dados genético.
"A tendência agora é a coisa
explodir", diz Sandro Souza,
biólogo do Instituto Ludwig.
No futuro, a ideia é que os
medicamentos personalizados
se tornem comuns. "Você faz
um teste genético para avaliar
se vai responder bem a determinada droga", diz Souza.
O barateamento do genoma
também levantou questionamentos bioéticos. Se for possível saber quem pode ficar
doente, isso não poderia ser
usado para discriminar pessoas
num concurso para emprego
ou para planos de saúde justificarem mensalidades caras?
"Isso é uma falácia. Já há um
monte de coisas que o empregador pode olhar. Todo mundo
que tem barriga grande tem
mais chance de morrer do coração, as mulheres podem engravidar, há gente com colesterol
alto", diz Reinach.
Para Souza, já é hora de surgir uma legislação sobre isso."Estamos muito atrasados.
Não existe nenhum debate aqui
no Brasil. Estamos engatinhando e não há perspectiva".
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