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Técnica recria pintura rupestre em 3D
Pesquisadores usaram câmera e scanner para reproduzir com precisão arte milenar de parque nacional do PI
Imagens também levam
em conta diferenças de
relevo das paredes de
pedra, importantes
para a arte pré-histórica
MARCELO BORTOLOTI
DO RIO
As pinturas rupestres da
Serra da Capivara (PI) resistiram a milênios de sol e chuva, mas há sempre o risco de
que o tempo ou o descuido as
apague. Para evitar isso, pesquisadores desenvolveram
uma tecnologia nova para registrá-las em 3D.
O grupo de cientistas, da
Fundação Museu do Homem
Americano e da Universidade Federal de Pernambuco,
acoplou um equipamento fotográfico de altíssima resolução a um scanner a laser, o
que permite criar em computador um retrato fidedigno e
tridimensional da pintura.
A ideia é inovadora, já que
restaurar uma pintura nessas
condições, como se faz com
quadros de um museu, é um
procedimento temerário. O
máximo que se poderia fazer
é criar condições adequadas
para diminuir seu ritmo de
degradação. Agora, as imagens estão mais perto da
imortalidade, pode-se dizer.
VOLUME
O projeto, que teve financiamento do MCT (Ministério
de Ciência e Tecnologia), escaneou mais de 3.000 figuras
rupestres no parque nacional
nordestino. É o maior volume
já documentado com esse tipo de tecnologia no mundo.
"Esse é o recurso técnico
mais preciso que existe no
momento. E, como a pintura
original será destruída cedo
ou tarde, o que podemos fazer é multiplicar esse tipo de
levantamento", diz a pesquisadora Anne-Marie Pessis,
que coordena o projeto.
ÚLTIMA GERAÇÃO
O scanner a laser é um
equipamento utilizado com
frequência em estudos topográficos. Acoplado a um
avião, ele faz a varredura de
determinado terreno e cria
um modelo da superfície
com precisão milimétrica. No
caso do parque, ele foi apontado para uma parede.
O papel da câmera digital
era capturar as cores e contornos da pintura. Os dois registros foram unidos por um
programa de computador,
que criou os modelos 3D.
Além da melhor resolução, o processo tem evidentes vantagens em relação à
fotografia tradicional. Como
as pinturas foram feitas em
superfícies irregulares- as
paredes das cavernas-, uma
foto bidimensional faz com
que seu formato fique bastante distorcido.
"O homem pré-histórico
criava soluções diferentes de
pintura de acordo com a superfície", diz Maria Lúcia
Pardi, arqueóloga do Iphan.
O arquivo digital tem outra
utilidade além da preservação. Permite fazer réplicas
idênticas ao sítio arqueológico original. Isso já acontece
com as grutas de Lascaux, na
França, e Altamira, na Espanha. Elas foram fechadas à
visitação, e são suas réplicas
que hoje ficam abertas aos
turistas interessados.
"Em ambos os casos, as
pinturas tiveram de ser reproduzidas à mão. Com o
nosso sistema, é possível fazer tudo mecanicamente e
com muito mais precisão",
diz Anne-Marie Pessis.
A Serra da Capivara reúne
os sítios de pintura rupestre
mais importantes do Brasil,
alguns dos mais antigos do
mundo (leia mais à dir.).
O projeto, que custou R$
300 mil e durou quatro anos,
documentou as pinturas de
apenas seis sítios arqueológicos de um total de 1.200 existentes na região.
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