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Pegada faz recuar origem de vertebrados terrestres
Rastros de animal de quatro patas achados na Polônia têm 18 milhões de anos
Criatura já tinha membros articulados e vivia em lagoa salgada com águas rasas; fóssil mostrando corpo do bicho não foi encontrado
GIULIANA MIRANDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os primeiros passos da linhagem evolutiva de animais que
desembocou no homem e em
todos os outros vertebrados
terrestres acabam de sofrer
uma reviravolta. Pegadas encontradas no sudeste da Polônia indicam que os peixes "criaram" pernas e conquistaram a
terra quase 18 milhões de anos
antes do que se acreditava.
Ou seja, há 395 milhões de
anos, os tetrápodes -vertebrados com quatro patas- já caminhavam por aí. E com dedos,
pés e mãos articulados.
A descoberta está descrita
em um estudo na edição de hoje
da revista "Nature" liderado
por Grzegorz Niedzwiedzki, da
Universidade de Varsóvia. Seu
grupo encontrou, entre 2002 e
2007, várias trilhas e pegadas
fossilizadas em pedra que contrariam o cenário mais aceito
hoje para o surgimento dos vertebrados terrestres.
Acredita-se que a transição
da água para a terra aconteceu
por meio de um grupo de animais com características adaptadas aos dois ambientes. Um
deles era Tiktaalik roseae, um
peixe com nadadeiras que parecem patas sem dedos.
Os vestígios encontrados,
porém, são quase 10 milhões de
anos mais velhos que os primeiros registros dessa transição. Segundo os autores, isso
"força um revisão radical" de
teorias sobre a transição.
Jennifer Clack, paleontóloga
da Universidade de Cambridge
que não participou do estudo,
disse à Folha que ele "muda as
ideias sobre quando, como e
sob quais circunstâncias os tetrápodes evoluíram".
Na lama
Os rastros do animal de 18
milhões de anos estavam numa
região que provavelmente abrigou uma lagoa de águas salgadas e rasas, de leito lamacento.
É um cenário diferente do que
andava sendo proposto para a
origem dos vertebrados terrestres. O Tiktaalik, por exemplo,
tinha vivido no delta de um rio.
De qualquer maneira, no caso polonês, as condições marinhas favoreceram a preservação das marcas pré-históricas.
Ainda assim, boa parte das pegadas está incompleta ou precisaria de mais exemplos para
ser interpretada com precisão.
Apesar do material encontrado ter formas e características bem diversificadas, o tamanho médio das pegadas surpreendeu os cientistas. Com 15
cm, os vestígios sugerem animais de quase 2,5 metros de
comprimento. Bem mais que o
esperado. Uma pegada isolada
com 26 cm sugere a existência
de exemplares ainda maiores.
"O tamanho das pegadas isoladas é espantoso. Elas são
maiores que qualquer fóssil documentado dos parentes dos
tetrápodes da época", considerou Clack. Ainda assim, afirma
a pesquisadora, é preciso cautela. "São marcas isoladas. Pessoalmente, acredito que algumas delas possam ter sido deixadas por animais diferentes."
Como não existem fósseis
dos corpos dos animais, os resultados do estudo dependem
da interpretação das marcas. E
isso ainda está longe de ser
consenso entre paleontólogos.
"É muito difícil distinguir esses grupos de "peixes" dos tetrápodes primitivos, mesmo com
base em ossos. Imagine com
pegadas", diz Rafael da Costa
Sillva, do Serviço Geológico do
Brasil. Embora acredite que o
trabalho ajude a desvendar a
evolução desses animais, o pesquisador considera que "os dados não são assim tão conclusivos quanto acham os autores".
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