São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

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Pegada faz recuar origem de vertebrados terrestres

Rastros de animal de quatro patas achados na Polônia têm 18 milhões de anos

Criatura já tinha membros articulados e vivia em lagoa salgada com águas rasas; fóssil mostrando corpo do bicho não foi encontrado


GIULIANA MIRANDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os primeiros passos da linhagem evolutiva de animais que desembocou no homem e em todos os outros vertebrados terrestres acabam de sofrer uma reviravolta. Pegadas encontradas no sudeste da Polônia indicam que os peixes "criaram" pernas e conquistaram a terra quase 18 milhões de anos antes do que se acreditava.
Ou seja, há 395 milhões de anos, os tetrápodes -vertebrados com quatro patas- já caminhavam por aí. E com dedos, pés e mãos articulados.
A descoberta está descrita em um estudo na edição de hoje da revista "Nature" liderado por Grzegorz Niedzwiedzki, da Universidade de Varsóvia. Seu grupo encontrou, entre 2002 e 2007, várias trilhas e pegadas fossilizadas em pedra que contrariam o cenário mais aceito hoje para o surgimento dos vertebrados terrestres.
Acredita-se que a transição da água para a terra aconteceu por meio de um grupo de animais com características adaptadas aos dois ambientes. Um deles era Tiktaalik roseae, um peixe com nadadeiras que parecem patas sem dedos.
Os vestígios encontrados, porém, são quase 10 milhões de anos mais velhos que os primeiros registros dessa transição. Segundo os autores, isso "força um revisão radical" de teorias sobre a transição.
Jennifer Clack, paleontóloga da Universidade de Cambridge que não participou do estudo, disse à Folha que ele "muda as ideias sobre quando, como e sob quais circunstâncias os tetrápodes evoluíram".

Na lama
Os rastros do animal de 18 milhões de anos estavam numa região que provavelmente abrigou uma lagoa de águas salgadas e rasas, de leito lamacento. É um cenário diferente do que andava sendo proposto para a origem dos vertebrados terrestres. O Tiktaalik, por exemplo, tinha vivido no delta de um rio.
De qualquer maneira, no caso polonês, as condições marinhas favoreceram a preservação das marcas pré-históricas. Ainda assim, boa parte das pegadas está incompleta ou precisaria de mais exemplos para ser interpretada com precisão.
Apesar do material encontrado ter formas e características bem diversificadas, o tamanho médio das pegadas surpreendeu os cientistas. Com 15 cm, os vestígios sugerem animais de quase 2,5 metros de comprimento. Bem mais que o esperado. Uma pegada isolada com 26 cm sugere a existência de exemplares ainda maiores.
"O tamanho das pegadas isoladas é espantoso. Elas são maiores que qualquer fóssil documentado dos parentes dos tetrápodes da época", considerou Clack. Ainda assim, afirma a pesquisadora, é preciso cautela. "São marcas isoladas. Pessoalmente, acredito que algumas delas possam ter sido deixadas por animais diferentes."
Como não existem fósseis dos corpos dos animais, os resultados do estudo dependem da interpretação das marcas. E isso ainda está longe de ser consenso entre paleontólogos.
"É muito difícil distinguir esses grupos de "peixes" dos tetrápodes primitivos, mesmo com base em ossos. Imagine com pegadas", diz Rafael da Costa Sillva, do Serviço Geológico do Brasil. Embora acredite que o trabalho ajude a desvendar a evolução desses animais, o pesquisador considera que "os dados não são assim tão conclusivos quanto acham os autores".


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