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Operação vê novas fraudes com madeira
Um ano após a Operação Curupira, madeireiros de Mato Grosso falsificam papéis do Estado para driblar a fiscalização
Segundo o Ibama, mudança
de estratégia de clandestino
inclui serrar as toras dentro
da floresta, o que facilita
transporte até as serrarias
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A ARIPUANÃ (MT)
O documento mudou, mas a
fraude continua. Reprimidos
pelo governo com a Operação
Curupira, há exatamente um
ano, os madeireiros ilegais do
noroeste de Mato Grosso estão
de volta à ativa. Agora, em vez
de desviar as autorizações de
transporte de madeira do Ibama, as famigeradas ATPFs, a
máfia da madeira está falsificando as recém-inventadas
guias florestais emitidas pelo
próprio governo do Estado.
O novo golpe foi descoberto
nas últimas semanas, durante
uma operação conjunta do Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis), da Sema
(Secretaria de Meio Ambiente
de Mato Grosso) e da Polícia
Federal na região de Aripuanã.
Os resultados da operação devem ser anunciados hoje.
A fraude expõe os problemas
do chamado pacto federativo
assinado em 2005 entre os governos federal e estadual, que
transferiu para Mato Grosso a
responsabilidade de fiscalizar a
extração de madeira, até então
atribuição do Ibama.
Segundo o rondoniano Alberto Chaves Paraguassu, que
chefia a base operativa do Ibama em Aripuanã, os madeireiros mudaram de estratégia para driblar a fiscalização. "Há
uma nova forma de exploração
sendo utilizada", afirma. Agora,
os clandestinos estão serrando
as toras em pranchas dentro da
floresta, usando "pica-paus"
-um tipo de serra pequena e
fácil de transportar.
Madeira serrada chama menos atenção da fiscalização do
que as toras, que até recentemente transitavam a rodo durante a noite em caminhões nas
estradas da região. Uma vez no
pátio das serrarias, as tábuas
são misturadas com madeira
legalizada. "Encobre-se, assim,
a ilegalidade da origem", disse
Paraguassu à Folha.
Desmonte
Aripuanã e as vizinhas Colniza e Cotriguaçu integram uma
das principais novas fronteiras
da exploração madeireira na
Amazônia. Contêm estoques
valiosos de madeira, que começaram a ser explorados de forma acelerada -e criminosa-
nos últimos dez anos. Segundo
o Imazon (Instituto do Homem
e Meio Ambiente da Amazônia), o consumo de toras ali
cresceu de 600 mil metros cúbicos em 1998 para 1,1 milhão
de metros cúbicos em 2004.
A região foi um dos principais focos da Operação Curupira, deflagrada pela Polícia Federal em junho de 2005, que fechou mais de 400 empresas-fantasmas especializadas na
venda de ATPFs e levou 47 funcionários públicos à prisão
-inclusive o superintendente
do Ibama em Mato Grosso, Hugo Werle, e o chefe do escritório
da Aripuanã, Paulo Salazar.
Após a Curupira, o escritório
de Aripuanã foi desativado -só
voltou a funcionar em maio
deste ano, com a nova operação
de fiscalização. Várias madeireiras fecharam as portas, quebrando a economia local.
A fiscalização foi transferida
para o Estado, que para substituir a ATPF criou a GF (Guia de
Florestal). Pelo novo sistema,
as empresas declaram seu estoque de madeira legal, que entra
numa base de dados da Sema
como dinheiro em um banco.
As guias contêm códigos de
barra, e sempre que um caminhão com madeira passa pela
fiscalização é possível saber
qual é o "saldo" da empresa.
"É muito mais difícil de clonar que a ATPF", diz Luís Henrique Daldegan, secretário-adjunto da Sema.
Crédito inflado
O que abriu caminho para a
fraude foi a passagem de bastão
do Ibama para a Sema, no ano
passado. Até hoje ninguém foi
às serrarias verificar se o crédito que as empresas tinham junto ao Ibama foi declarado à Sema corretamente. "O cara podia ter 100 m3 de crédito no
Ibama e ter declarado à Sema
que tinha 10.000 m3. Ninguém
checou isso", diz Paraguassu. A
diferença, afirma, seria completada com a madeira ilegal.
Daldegan põe a culpa no órgão federal. "O Ibama tinha até
o dia 3 de janeiro para ter informado a nós todos os planos de
manejo e os créditos das madeireiras. Não o fez."
O secretário-adjunto reconhece a fraude, mas pede paciência, chamando a ilegalidade de "questão cultural". "Isso
está sendo equacionado."
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