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Conivência de índios atrapalha a fiscalização
DO ENVIADO A ARIPUANÃ
Leomar Rosa, chefe do posto
da Funai (Fundação Nacional
do Índio) na Terra Indígena
Aripuanã, da nação cinta-larga,
é o primeiro a notar marcas
frescas de pneu na estrada de
terra que conduz à reserva.
"Acho que vocês perderam essa
máquina", sentencia aos dois
agentes do Ibama no banco da
frente da picape.
A máquina em questão era
uma pá escavadeira, um tipo de
trator usado na extração de madeira, que havia sido apreendido pelo Ibama e pela Polícia Federal dentro da terra indígena
no dia 24 de junho. Alberto Paraguassu, chefe da base do Ibama em Aripuanã, conta que havia uma boa quantidade de toras já empilhadas no local. "Devia haver pelo menos três caminhões lá dentro", conta. "Mas
tivemos de abortar a missão
porque um dos caciques não
nos deixou passar - ele sabia
que seria um flagrante."
Impossibilitados de levar a
escavadeira -único butim da
operação- até Aripuanã, os fiscais a estacionaram num sítio
do lado de fora da reserva. No
dia 28, quatro picapes do Ibama
e um caminhão passaram três
horas em uma estrada de terra
poeirenta e quente para recuperar o veículo. Mas os madeireiros chegaram antes. Os
agentes do Ibama literalmente
perderam a viagem.
A exploração de madeira nas
terras dos cintas-largas diminuiu após a Operação Curupira, segundo Ibama, Funai e os
próprios índios. Mas tem sido
uma pedra no sapato das operações do Plano de Prevenção e
Controle do Desmatamento do
governo naquela região. Empobrecidos e queixosos de falta de
assistência oficial, os índios se
aliam com os madeireiros. Dão
árvores e proteção em troca de
dinheiro. "Sabemos quem são
as empresas, mas só podemos
prendê-los em flagrante", lamenta Paraguassu.
Na volta da operação frustrada do dia 28, durante uma parada no distrito de Conselvan,
Rosa, da Funai (ele próprio um
ex-madeireiro), apontava para
caminhões estacionados em
um posto. "Todos eles "puxam"
madeira nos cintas-largas. São
todos de Espigão D'Oeste [RO].
Quer saber as placas?" Acertou
todas. Rosa é o único agente do
Estado brasileiro fiscalizando
uma área de 750 mil hectares.
Diz temer os madeireiros. "Fico sozinho lá, armado com um
canivete. Tenho dois filhos".
A denúncia mais recente partiu de um dos líderes da reserva, Naki Cinta-Larga. Ele próprio se beneficiou da extração
de madeira no passado, mas parou com o negócio em 2004.
"Agora ninguém chega comigo,
não fala comigo, não recebo nada", reclama, falando dos madeireiros consorciados com outros líderes. Inquirido sobre se
ganhou muito dinheiro com a
exploração ilegal, Naki sorri
amarelo: "Não sei, não".
(CA)
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