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Cientistas propõem novo acordo de emissões para isentar pobres
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Se os países ricos e os pobres
falharem em chegar a um acordo sobre como reduzir emissões de gases-estufa no fim deste ano, em Copenhague, não terá sido por falta de criatividade.
Um grupo de pesquisadores
acaba de propor um método
para dividir de maneira equitativa a responsabilidade pelo
corte. Basta limitar as emissões
dos ricos, onde quer que vivam.
A proposta é apresentada hoje pelo grupo de Stephen Pacala
e Robert Socolow, da Universidade de Princeton, na revista
"PNAS". É um estudo que propõe uma nova distribuição de
metas de corte de emissões
num novo regime de proteção
ao clima (veja quadro à esq.).
De acordo com o trabalho, os
países desenvolvidos (principais responsáveis pelo problema) cumpririam reduções rigorosas e, ao mesmo tempo, os
países em desenvolvimento
(que nas próximas décadas serão os principais emissores)
poderiam se engajar nos cortes
sem prejudicar sua economia.
O estudo aplica o princípio
das responsabilidades comuns,
mas diferenciadas: avaliar dentro de cada país quanto cada cidadão emite -e quais cidadãos
emitem acima do devido.
"Quando falamos de responsabilidades, geralmente estamos falando dos países. Mas, se
você leva a ideia de justiça e responsabilidade até o fim, você
deve falar de emissões dos indivíduos", disse à Folha Shoibal
Chakravarty, estudante de pós-doutorado de Socolow e autor
principal do estudo.
Chakravarty e seu grupo se
basearam na noção de que o nível de emissões de uma pessoa
está diretamente relacionado
ao seu nível de renda. Usando
dados de instituições como o
Banco Mundial, é possível estimar as emissões de CO2 de cada
país e ver também quem está
emitindo quanto.
Conhecendo os grandes
emissores individuais, é possível calcular uma meta mundial
de redução e repartir esse prejuízo entre essas pessoas, vivam elas nos EUA, na Índia, na
China ou no Brasil. Os países
ricos, como naturalmente têm
um número maior de grandes
emissores, terão de se esforçar
mais para cortar seu CO2.
Os pesquisadores dão um
exemplo. Em 2030, as emissões projetadas do planeta, caso nada seja feito, serão de 43
bilhões de toneladas de CO2
por ano. Se o mundo decidir
aplicar um corte de 30%, o teto
de emissões de cada ser humano será de 10,8 toneladas de
carbono por ano. Em 2030 cerca de 1,13 bilhão de pessoas entre os mais de 8 bilhões de seres humanos (população futura) estariam acima do teto. A
meta de corte de CO2 de cada
país seria, portanto, calculada
de acordo com a fração desse
1,13 bilhão de grandes emissores que ele tem e do quanto cada um deles extrapola o teto.
No Brasil, por exemplo, haverá 13 milhões de pessoas acima da meta em 2030, e o país
teria de cortar 4% das emissões. Os EUA teriam 285 milhões de pessoas acima do limite e teriam de cortar 60%.
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