São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2000

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Kac afirma que acordo foi rompido

FREE-LANCE PARA A FOLHA

O artista brasileiro Eduardo Kac, que em 1997 implantou um chip no calcanhar durante performance, em São Paulo, tem como marca de sua obra o diálogo entre "ser tecnológico e ser vivo". Mas a distinção some no caso de animais transgênicos, pois ambos se misturam.
Para Kac, portanto, é importante a integração social dos produtos dessas tecnologias. Em 1998, o artista pensou em começar o trabalho com um coelho transgênico. Entrou em contato com Louis-Marie Houdebine, na França, cientista em cujo laboratório são produzidos vários desse animais para fins experimentais.
O coelho de Kac, porém, era diferente. Enquanto animais transgênicos tradicionais (o primeiro coelho transgênico é de 1985) possuem o gene alterado apenas em alguns tecidos, o coelho de Kac tem o gene em todas as suas células.
Esse tipo de coelho não tem tanta importância científica, uma vez que normalmente o interesse está em coelhos com alterações locais, para o estudo de proteínas específicas. Alba, segundo Kac, foi concebida apenas para ser criada com ele e sua família na casa de Chicago, onde trabalha como professor do Instituto de Arte da cidade.
"Queríamos trazer Alba para o convívio social e iniciar um diálogo sobre a tecnologia em diferentes setores da sociedade", diz Kac.
Ele ressalta que desde o começo da conversa com o cientista estava acertada a transferência da coelha para a casa do artista, que iria criá-la.
"Mas os superiores de Houdebine parecem não entender. Admiro-o e mantenho contato com ele, mas infelizmente a chefia do laboratório não permitiu a saída do animal, que permaneceu em Jouy-en-Josas, onde fica o laboratório", diz.
Kac contesta a reportagem do jornal "Le Monde", que afirma que o animal teria sido apresentado em Avignon, França. "Alba nunca saiu da sua cidade." O artista afirma que não pretende entrar na Justiça "pela custódia da filha", pois quer manter o diálogo. Segundo Kac, Alba estaria melhor com ele e sua família. A coelha continua na França.
Kac é criador de "Gênesis", obra em que uma frase bíblica foi traduzida para código genético. A sequência foi inserida em bactérias e sofreu mutações por luz ultravioleta, sendo depois retraduzida para a língua.
(LUCIANO G. BURATTO)



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