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Descobertas de vírus da Aids e de câncer dão Nobel a europeus
Alemão que isolou HPV, causador de tumor cervical, fica com metade do prêmio; franceses que acharam o HIV dividem o resto
Premiação chega 25 anos
depois do trabalho original
de Françoise Barré-Sinoussi
e Luc Montagnier sobre o
agente da doença do século
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
A ligação entre dois tipos de
vírus e duas das maiores pragas
da humanidade, a Aids e o câncer, rendeu ontem a três cientistas europeus o Prêmio Nobel
em Fisiologia ou Medicina.
O alemão Harald zur Hausen, 72, e os franceses Luc
Montagnier, 76, e Françoise
Barré-Sinoussi, 61, dividirão a
bolada de 10 milhões de coroas
suecas (US$ 1,4 milhão). O primeiro ficará com metade do dinheiro, pela descoberta de que
o papilomavírus humano (o
HPV) causa o câncer de colo de
útero. Os outros dois ratearão o
restante, pela descoberta, há 25
anos, do vírus da imunodeficiência humana, o HIV.
Segundo o Comitê do Nobel,
o trabalho de Montagnier e
Barré-Sinoussi foi "essencial
para a compreensão atual da
biologia da doença e para seu
tratamento". O de Zur Hausen
levou à caracterização da história natural da infecção pelo
HPV e ao desenvolvimento de
vacinas profiláticas contra o
câncer induzido pelo vírus -o
segundo tumor que mais ataca
mulheres, com 500 mil novos
casos e 250 mil mortes por ano.
Apesar de se tratarem de
duas pesquisas com vírus, os
trabalhos premiados têm mais
diferenças do que semelhanças.
Dividir um prêmio entre duas
descobertas diferentes é prática pouco comum no Nobel.
O vírus da Aids, 25 anos depois de sua descoberta, continua desafiando os cientistas.
Apesar de o trabalho da dupla
francesa ter aberto as portas
para a criação do coquetel de
remédios que deu chance de vida aos portadores de HIV -nos
anos 1980, ser soropositivo era
uma sentença de morte-, todas as tentativas de criar uma
vacina contra ele falharam.
A Aids, reconhecida como
pandemia em 1981, já matou
pelo menos 25 milhões de pessoas, sobretudo na África. Estima-se que 1% da população
mundial seja afetada por ela.
Já o HPV encontrou o seu algoz. O trabalho iniciado nos
anos 1970 por Zur Hausen no
Centro Alemão de Pesquisa do
Câncer, em Heidelberg, seria
coroado em 2006 com a entrada no mercado da primeira vacina anticâncer já desenvolvida. O medicamento, batizado
Gardasil, previne infecção pelas variedades de HPV que causam 70% dos casos de câncer
cervical, o HPV-16 e o HPV-18.
"Não estou preparado para
isso", disse Zur Hausen ontem
pela manhã, emocionado com a
notícia do prêmio.
Montagnier, que participa de
uma conferência na Costa do
Marfim, dedicou o prêmio aos
doentes de Aids e disse que o
Nobel "nos dá coragem para
continuar até atingirmos o nosso objetivo" -a cura da doença.
Barré-Sinoussi, que estava o
Camboja, também foi pega de
surpresa. "Confesso que estava
muito longe de esperar por isso", declarou a francesa.
Com agências internacionais
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