São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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Vencedores discordam sobre prazo para vacina contra a Aids

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dois laureados com o Nobel de medicina anunciado ontem discordam sobre o futuro das pesquisas de uma vacina eficaz contra a Aids.
Para o francês Luc Montagnier, o desenvolvimento de um método terapêutico, em vez de uma vacina que seja apenas preventiva -o que em tese poderia ser até mais fácil fazer-, poderá ser publicado em três ou quatro anos.
Para Francoise Barré-Sinoussi, também vencedora do Nobel ao lado de Montagnier, o surgimento de uma vacina é algo muito mais complexo.
"Nós fomos muito ingênuos [quando o vírus foi identificado há 25 anos, por ela]. O que eu posso dizer é que até hoje só vimos uma série de insucessos", afirmou ontem a pesquisadora do Instituto Pasteur, que está no Camboja (sudeste da Ásia) fazendo pesquisas de campo.
Segundo a mais nova laureada com o Nobel de Medicina, todos esperavam nos anos 80 que o surgimento de uma vacina seria relativamente rápido.

Otimismo cauteloso
Convicto de que o prêmio Nobel está nas mãos certas, o pesquisador brasileiro Esper Kallás, da Unifesp, concorda mais com Barré-Sinoussi. "Acho que é ela quem está certa", afirmou o infectologista, que já coordenou os testes de uma vacina contra Aids no Brasil. A pesquisa, feita em vários países, acabou suspensa porque o medicamento não impediu a passagem do vírus. Voluntários foram contaminados mesmo após a vacinação.
Para Kallás, que considera Barré-Sinoussi uma extraordinária pesquisadora ("a que sempre colocou a mão na massa e efetivamente estudou o vírus"), a falta de uma perspectiva a curto prazo não pode ser motivo de desânimo para a comunidade científica que tenta domar a infecção por HIV.
Um Nobel como esse até que revigora a área, disse o cientista. "Temos de trabalhar muito. Com respeito, mas também com otimismo. Sempre pensando que em algum momento as pesquisas que estamos fazendo hoje vão dar certo."
Tanto o pesquisador brasileiro quanto a cientista francesa concordam que a grande dificuldade para a produção de uma vacina eficiente contra o HIV está na pesquisa básica.
A interação entre vírus e células humanas -a descoberta premiada agora pelo comitê do Nobel- é bastante complexa. "Temos de aprender ainda mais sobre o HIV", diz Kallás.


Com agências internacionais


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