São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Índice

Combustível de foguete não deve contaminar Alcântara, diz Ucrânia

DA REPORTAGEM LOCAL

A parceria entre brasileiros e ucranianos para a realização de operações com o foguete Cyclone-4 a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, não oferece riscos à população e ao ambiente, segundo Valeriy Komarov, primeiro vice-diretor geral da Agência Espacial Nacional da Ucrânia.
A afirmação rebate os comentários de especialistas que temem que o composto tóxico usado como combustível nesse foguete, uma substância chamada dimetil-hidrazina, pudesse causar acidentes graves na região. Há cerca de um mês, a revista "Nature" (www.nature.com) publicou reportagem sobre estudo que apontou a contaminação de populações locais do Cazaquistão por conta de lançamentos de foguetes russos com o mesmo combustível, em Baikonur. Na mesma data, esta Folha noticiou que a mesma substância seria usada no Cyclone-4, foguete que, segundo acordo firmado entre Brasil e Ucrânia, deve ser lançado de Alcântara a partir de 2007 ou 2008.
"Desde o início dos trabalhos conjuntos, a segurança ecológica é considerada pelas partes ucraniana e brasileira como condição inalienável da realização do projeto", disse Komarov, em comunicação remetida à Folha. "Está elaborado e pronto para realização o "Programa de Garantia de Segurança Ecológica de Complexo Terrestre Espacial", que integra tanto os métodos técnicos e os de organização tradicionais quanto os métodos elaborados especialmente para o projeto em questão", prossegue o vice-diretor.
Ele aponta que vários foguetes, de diferentes nacionalidades, usam esse mesmo combustível. Entre eles, o russo Proton (um dos supostos causadores dos problemas nos arredores de Baikonur), os chineses Longa Marcha, os indianos GSLV e PSLV e os ucranianos da série Cyclone.
Segundo Komarov, embora tóxica, a dimetil-hidrazina causa muito menos danos ao ambiente do que os combustíveis sólidos, como o usado no VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites, do Brasil).
Quanto à crítica de especialistas de que esse combustível está se tornando ultrapassado e não é mais a primeira opção de nenhum projeto novo de foguete, o vice-diretor da agência espacial da Ucrânia diz que "a transição para os novos tipos de combustível, com base em oxigênio e querosene, exige a concessão de fundos adicionais os quais nem o Brasil, nem a Ucrânia, por enquanto, podem garantir".
Komarov aponta que todos os cuidados estão sendo tomados para priorizar a segurança da população local e do ambiente, em ações que vão desde o planejamento das trajetórias do foguete até cálculos de possível contaminação em caso de acidente.
Além disso, ele enfatiza o alto índice de confiabilidade dos foguetes da série Cyclone. "Vale mencionar que a família dos foguetes Cyclone tem uma grande e gloriosa história de colocação em órbita de aparelhos de vários países. No total, foram feitos 105 lançamentos dos foguetes Cyclone-2 e 121 dos Cyclone-3. Apenas um acidente foi registrado."
O foguete Cyclone-4, por enquanto, existe apenas nas pranchetas dos projetistas. (SN)

Texto Anterior: Críticos apontam risco de retorno às missões dos ônibus espaciais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.