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QUESTÃO DE GÊNERO
Dados compilados por pesquisadoras do RJ mostram desvantagem feminina em qualificação acadêmica
Homem domina ciência no país, diz estudo
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar do avanço das mulheres
em todos os níveis da educação
brasileira, o meio científico e tecnológico ainda é, predominantemente, masculino. É o que mostra
um estudo feito pelas pesquisadoras Hildete Pereira de Melo, da
Universidade Federal Fluminense, e Helena Maria Martins Lastres, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
Para mostrar esse quadro, elas
fizeram tabulações próprias a
partir da relação de bolsas de produtividade -as de maior importância acadêmica- mantidas pelo CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico).
Elas mostram que, no nível mais
elevado de qualificação acadêmica da escala do CNPq, apenas
21,1% dessas bolsas eram para
mulheres em 1999. No início da
década de 1990, o quadro era muito parecido: apenas 18,5%.
O CNPq, a partir de critérios de
produtividade acadêmica, classifica os pesquisadores em nove níveis (1A, 1B, 1C, 2A, 2B, 2C, 3A, 3B
E 3C). Os pesquisadores de nível
1A são os de maior produção, avaliada, entre outros critérios, com
base no número de teses, artigos
publicados ou orientações em
programas de pós-graduação.
É justamente nesse nível em que
a participação feminina é menor.
Nos níveis abaixo, a participação
é maior e chega, no nível 3C, a
44%. No total, independentemente do nível, as mulheres representam 31,2% das bolsas de produtividade do órgão.
Humanidades
A pesquisa mostra ainda que a
única área de conhecimento em
que mulheres são maioria é a de
humanidades, com 58,8% de participação. Em todas as demais
áreas, o percentual é de menos da
metade, sendo a menor proporção feminina encontrada em matemática (apenas 12,1%).
A pouca representatividade feminina no setor é verificada também a partir do total de patentes
registradas no Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).
Do total de 952 patentes em que
foi possível identificar pelo nome
o sexo da pessoa que fez o registro, apenas 75, ou 7,9%, eram de
mulheres em 2001. Em 91, o percentual era ainda menor: 4,7%.
Para as autoras, esses dados
mostram que "apesar de todas as
conquistas alcançadas pela mulher nas últimas décadas, as mulheres permanecem esquecidas
ou pouco visíveis no sistema científico ou tecnológico".
A polêmica sobre mulheres na
ciência nunca esteve tão quente:
nos EUA, por exemplo, ela foi um
dos estopins da demissão do reitor da Universidade Harvard,
Larry Summers. No ano passado,
ele havia insinuado que diferenças inatas tornavam as mulheres
menos aptas que os homens para
as carreiras em ciências naturais,
como biologia e física.
Na avaliação de Hildete Pereira
de Melo, essa baixa participação
das mulheres no Brasil pode ser
explicada tanto pelo preconceito
quanto pelo fato de que a formação de um pesquisador no nível
mais elevado leva tempo.
"Formar um cientista é uma estrada muito longa. Leva tempo.
Não basta só ter um doutorado.
Somente na década de 1990 houve
uma explosão de matrículas na
pós-graduação brasileira. As mulheres aproveitaram esse aumento, tanto que a participação delas
já é bastante alta em bolsas de iniciação científica. Acho que o caminho natural será o aumento
dessa participação das mulheres
até chegar a metade do total."
Esquecidas
Para ela, no entanto, há, sim,
preconceito quando a história de
grandes cientistas brasileiras não
é lembrada. "Encontramos registros desde a década de 1930 de várias mulheres que tiveram atuação destacada, mas ninguém fala
hoje delas. A sociedade nunca botou refletores nelas. É por isso que
é importante realizar estudos de
gênero", afirma a pesquisadora.
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