São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2006

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RUMO AO ESPAÇO

Tecnologia nacional para resfriar satélite já equipa forno de padaria

Serguei Remezov/Reuters
Pontes veste seu traje espacial


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Padaria: a fronteira final.
Enquanto a tecnologia de minitubos de calor desenvolvida por um grupo da Universidade Federal de Santa Catarina ainda espera por sua prova de fogo a bordo da Estação Espacial Internacional, um uso alternativo da técnica já permite aperfeiçoar a produção de pães, mantendo rígido controle de temperatura sobre o forno.
Tudo começou no Labsolar (Laboratório de Energia Solar e Núcleo de Controle Térmico para Satélites), voltado para a criação de tecnologias nacionais que permitissem fazer a refrigeração de componentes em espaçonaves.
Alguns testes dos chamados minitubos de calor -pequenas estruturas que controlam a temperatura ao "diluí-la" uniformemente- já foram realizados em vôos suborbitais de foguetes, mas os sistemas seguem sem certificação suficiente para servir de opção aos construtores de satélites. Hoje, todos os artefatos espaciais produzidos pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) têm a temperatura controlada por equipamentos importados.
Daí a importância de levá-los a bordo da nave Soyuz que parte no próximo dia 30 com o astronauta brasileiro Marcos Cesar Pontes. "Agora, sim, o nosso experimento poderá durar quatro dias seguidos e, quem sabe, convencer os fabricantes de que está qualificado para equipar satélites", diz Márcia Barbosa Mantelli, da UFSC.
A estratégia de usar tubos de calor para controle térmico já é velha conhecida da indústria. Ao desenvolver novas técnicas de confecção e soldagem que aprimoram esses sistemas, a equipe de Mantelli já avançou mais nos chamados "derivados tecnológicos" do que propriamente na aplicação da técnica no espaço.
Por exemplo, a Petrobras hoje financia as pesquisas do Labsolar e está implementando o uso de tubos de calor em suas refinarias. E os pesquisadores também já demonstraram que não há nada tão bom quanto o "pão espacial" -um forno equipado com tubos de calor para manter todas as suas regiões igualmente aquecidas.
"Hoje, você vai numa padaria qualquer e, numa mesma fornada, você encontra aquele pão branquinho, quase cru, e aquele torrado, escuro", diz Mantelli. "Com o forno equipado com nossos tubos de calor, os pães saíram todos assados por igual."
Para funcionar, os minitubos de calor que Pontes testará no espaço estarão preenchidos por água -estratégia conservadora escolhida por Mantelli para garantir a aprovação do experimento para voar na nave tripulada.
Mais audaz foi outro grupo da UFSC, liderado por Edson Bazzo, que testará forma alternativa de controle de temperatura. Em seu experimento, com os chamados "evaporadores capilares", o fluido inserido para distribuir o calor é a acetona -da qual Mantelli desistiu por medo de contaminação.
Com esses dois experimentos, o Brasil poderá estar mais próximo do sonho da "refrigeração própria" para seus satélites.


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