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Italianos descobrem animal que vive em água sem oxigênio
Criaturas achadas no Mediterrâneo foram as primeiras com múltiplas células achadas a 3.000 metros de profundidade
Biólogos identificaram três espécies com menos de um milímetro de comprimento capazes de suportar alta salinidade e meio tóxico
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ambiente capaz de asfixiar todos os animais conhecidos do planeta foi colonizado
por pelo menos três espécies
diferentes de invertebrados
marinhos. Descobertos a mais
de 3.000 m de profundidade no
Mediterrâneo, eles são os primeiros membros do reino animal a prosperar mesmo diante
da ausência total de oxigênio.
Até agora, achava-se que só
bactérias pudessem ter esse estilo de vida, conhecido como
anaeróbico. Não admira que os
bichos pertençam a um grupo
pouco conhecido, o dos loricíferos, que mal chegam a 1 mm.
Apesar do tamanho, possuem cabeça, boca, sistema digestivo e uma carapaça. As três
espécies foram achadas pela
equipe de Roberto Danovaro,
da Universidade Politécnica
das Marche, na Itália, ao sondar
a chamada bacia do Atalante,
abismo marinho entre a Itália,
a Grécia e o norte da África.
Além de desprovida de oxigênio, a bacia possui altas concentrações de sal e é rica em sulfeto
de hidrogênio, gás tóxico que
dá o cheiro aos ovos podres.
Numa região tão profunda e
inóspita, é esperada a presença
de cadáveres de invertebrados,
que "chovem" das partes mais
superficiais do oceano. Por isso, Danovaro e companhia, para comprovar que os bichos
realmente viviam lá, trouxeram os animais para a superfície e administraram um nutriente "marcado" com átomos
radioativos, fáceis de detectar.
Viram, então, que as criaturas
estavam mesmo vivas, já que
devoraram a comida recebida.
Os resultados estão em artigo
publicado na revista científica
"BMC Biology". "Os argumentos deles são convincentes. De
fato, trata-se de um metabolismo antes só conhecido para
bactérias e outros micróbios",
diz Angelo Bernardino, do Departamento de Ecologia e
Oceanografia da Universidade
Federal do Espirito Santo.
A adaptação dos bichos à vida
no sufoco é tão profunda que
suas células dispensaram as
chamadas mitocôndrias, estruturas que ajudam qualquer animal "normal" a usar oxigênio.
É uma mudança evolutiva radical, já que as mitocôndrias
acompanham os ancestrais dos
animais há bilhões de anos. Os
habitantes das profundezas parecem ter trocado suas mitocôndrias por outras estruturas,
mais adequadas a condições
pouco oxigenadas.
"Esses loricíferos representam o primeiro caso dessa
adaptação, mas as etapas do
metabolismo deles provavelmente são parecidas com as
que vemos em outros ambientes do mar profundo, onde há
animais que se associam a bactérias capazes de aproveitar
compostos químicos do lugar",
afirma Bernardino, que espera
mais descobertas do tipo.
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