São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2010

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Italianos descobrem animal que vive em água sem oxigênio

Criaturas achadas no Mediterrâneo foram as primeiras com múltiplas células achadas a 3.000 metros de profundidade

Biólogos identificaram três espécies com menos de um milímetro de comprimento capazes de suportar alta salinidade e meio tóxico


REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ambiente capaz de asfixiar todos os animais conhecidos do planeta foi colonizado por pelo menos três espécies diferentes de invertebrados marinhos. Descobertos a mais de 3.000 m de profundidade no Mediterrâneo, eles são os primeiros membros do reino animal a prosperar mesmo diante da ausência total de oxigênio.
Até agora, achava-se que só bactérias pudessem ter esse estilo de vida, conhecido como anaeróbico. Não admira que os bichos pertençam a um grupo pouco conhecido, o dos loricíferos, que mal chegam a 1 mm.
Apesar do tamanho, possuem cabeça, boca, sistema digestivo e uma carapaça. As três espécies foram achadas pela equipe de Roberto Danovaro, da Universidade Politécnica das Marche, na Itália, ao sondar a chamada bacia do Atalante, abismo marinho entre a Itália, a Grécia e o norte da África.
Além de desprovida de oxigênio, a bacia possui altas concentrações de sal e é rica em sulfeto de hidrogênio, gás tóxico que dá o cheiro aos ovos podres. Numa região tão profunda e inóspita, é esperada a presença de cadáveres de invertebrados, que "chovem" das partes mais superficiais do oceano. Por isso, Danovaro e companhia, para comprovar que os bichos realmente viviam lá, trouxeram os animais para a superfície e administraram um nutriente "marcado" com átomos radioativos, fáceis de detectar. Viram, então, que as criaturas estavam mesmo vivas, já que devoraram a comida recebida.
Os resultados estão em artigo publicado na revista científica "BMC Biology". "Os argumentos deles são convincentes. De fato, trata-se de um metabolismo antes só conhecido para bactérias e outros micróbios", diz Angelo Bernardino, do Departamento de Ecologia e Oceanografia da Universidade Federal do Espirito Santo.
A adaptação dos bichos à vida no sufoco é tão profunda que suas células dispensaram as chamadas mitocôndrias, estruturas que ajudam qualquer animal "normal" a usar oxigênio.
É uma mudança evolutiva radical, já que as mitocôndrias acompanham os ancestrais dos animais há bilhões de anos. Os habitantes das profundezas parecem ter trocado suas mitocôndrias por outras estruturas, mais adequadas a condições pouco oxigenadas.
"Esses loricíferos representam o primeiro caso dessa adaptação, mas as etapas do metabolismo deles provavelmente são parecidas com as que vemos em outros ambientes do mar profundo, onde há animais que se associam a bactérias capazes de aproveitar compostos químicos do lugar", afirma Bernardino, que espera mais descobertas do tipo.


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