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Bactéria ajuda japonês a digerir sushi melhor do que ocidental
Micróbio em estômago de nipônicos permite extrair mais nutrientes de alga
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A alga marinha que envolve o
sushi pode ser igualmente saborosa para um japonês ou um
ocidental. Mas o nipônico vai
retirar muito mais nutrição dela do que qualquer outro ser
humano. Centenas de anos de
consumo de algas marinhas alteraram o organismo dos japoneses a ponto de facilitar a digestão desse ingrediente.
As responsáveis foram agora
identificadas por uma equipe
de pesquisadores na França:
bactérias do intestino que adquiriram genes comuns em
suas primas que vivem nos
oceanos. Os genes são a receita
para a produção de enzimas
que facilitam a digestão das algas pelas bactérias -no mar ou
na barriga de um japonês.
Os trilhões de bactérias presentes no intestino são os amigos mais próximos e mais úteis
dos seres humanos. Como lembra o grupo de Mirjam Czjzek,
da Universidade de Paris 6, em
um artigo na edição de hoje da
revista científica "Nature", esses micróbios suprem seus hospedeiros com energia ao usar
enzimas que estes não fabricam para quebrar alimentos.
Evolução conjunta
Bactérias intestinais e humanos têm evoluído juntos, em
benefício mútuo. Uma estratégia de sucesso no ecossistema
do intestino é se tornar proficiente em usar os nutrientes
que o hospedeiro consome.
Foi o que fez uma bactéria
"esperta", a Bacteroides plebeius. Ela adquiriu genes para
digerir as algas marinhas do gênero Porphyra. Nenhuma outra bactéria do mesmo gênero
consegue fazer isso.
Os cientistas concluíram que
a Bacteroides plebeius obteve
os genes por "transferência lateral" -o empréstimo um trecho de DNA adquirido diretamente- de bactérias marinhas
presentes nas algas.
O resultado é um elegante
exemplo da importância de hábitos culturais na evolução biológica. As bactérias se adaptaram ao ambiente intestinal repleto de uma fonte nova de alimento. E tinha que ser no Japão. Registros indicam que as
algas já eram usadas ali no século 8º. E o japonês de hoje
consome 14 gramas de algas
por dia, um recorde mundial.
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