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ANTROPOLOGIA
Tese é de australiano
Cães teriam ajudado a moldar os humanos
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Se depender do pesquisador
Paul Tacon, do Museu Australiano, os cães vão deixar de ser apenas os melhores amigos do homem para se tornarem também
os melhores amigos da evolução
do Homo sapiens. Tacon afirma
que a domesticação dos bichos se
deu nos primórdios do surgimento da espécie e ajudou a moldar a
humanidade de hoje.
Apoiando-se em análises recentes de biologia molecular, que
apontam para uma separação entre cães e seus parentes mais próximos, os lobos, há 135 mil anos,
Tacon diz que o evento que dividiu as duas espécies foi o início da
domesticação dos bichos pelos
ancestrais da humanidade -que,
coincidência ou não, estavam se
tornando humanos anatomicamente modernos mais ou menos
na mesma época.
"Os efeitos da coabitação com
os cães na psicologia, nas práticas
de caça e na vida social dos humanos devem ter sido profundos.
Um exemplo disso é a caça de
grandes animais, que não tem evidências conclusivas em grupos
antes do H. sapiens. Mas esse tipo
de comportamento é usual em
humanos modernos e em cães. A
associação entre as duas espécies
pode ter passado aos humanos a
capacidade de cooperação e a alta
sociabilidade canina, necessárias
para esse tipo de atividade", afirmou Tacon à Folha.
O embaraçoso hábito canino de
marcar seu território com urina
também pode ter tido um filhote
inusitado: a arte humana, afirma
Tacon. "Diferenças importantes
na capacidade simbólica humana
aparecem entre 100 mil e 50 mil
anos, com o aumento de diversas
formas de marcar espaços com
desenhos, gravações na rocha ou
impressões das mãos", explica.
"Os hominídeos primitivos não
tinham essa capacidade, ao contrário dos lobos e cães, que deixam marcas de urina no solo. Os
primeiros H. sapiens podem ter se
inspirado nos cães para criar marcas semelhantes usando materiais
mais duradouros", diz o antropólogo australiano.
Por fim, a própria amizade entre pessoas de mesmo sexo e idade, tipicamente humana, é para
Tacon outra amostra da influência canina. "Existem fortes laços
entre pares de lobos, cães e humanos do mesmo sexo, o que não
acontece com a maioria dos outros primatas. Esse conceito de
companheirismo pode ter sido
fundamental para a expansão humana", afirma.
(RJL)
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