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BIOTECNOLOGIA
Sequenciamento resulta de parceria entre Fapesp e empresa privada; meta é solicitar patentes em 18 meses
Genoma do boi busca retorno comercial mais rápido
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo) está iniciando com bois
um novo projeto de sequenciamento de genes, agora com uma
mudança de enfoque que poderá
levar ao retorno comercial do investimento de modo mais rápido.
"É uma nova estratégia", diz o
diretor científico da Fapesp, José
Fernando Perez.
Em um projeto de 18 meses, que
envolverá 20 laboratórios, só uma
parte do genoma do boi será sequenciada. Ao mesmo tempo, será feita a análise das funções do
material genético. Em outros projetos, a sequência era concluída
antes do estudo funcional.
"Sequenciar" significa descobrir a ordem das "letras" químicas A, T, C e G do DNA (ácido desoxirribonucléico). A sequência
deve servir de base ao estudo da
função dos genes (unidades do
código genético) mais ativos.
O projeto Genoma Funcional
do Boi foi anunciado ontem em
São Paulo. Tem custo de US$ 1
milhão, que será dividido entre a
Fapesp e a Central Bela Vista Genética Bovina, empresa que lida
com sêmen e embriões bovinos,
sediada em Pardinho (234 km a
oeste de São Paulo).
"Esse é o caminho", disse o governador do Estado, Geraldo
Alckmin, comentando a parceria
entre o Estado e uma empresa privada. "Também porque os recursos públicos não são ilimitados."
Patentes
O objetivo é, depois de 18 meses,
ter informação suficiente para
embasar pedidos de patente, segundo o coordenador do projeto,
Luiz Coutinho, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, em Piracicaba (162
km a noroeste da capital paulista).
"Em seis a sete meses terminaremos o sequenciamento. Em
mais um ano agregaremos informação sobre função. Mas, antes
do final dos 18 meses, já pretendemos usar a informação em programas de melhoramento genético", afirma Coutinho.
O Brasil tem hoje o maior rebanho bovino do mundo (170 milhões de cabeças). Mas é apenas o
terceiro maior exportador de carne, atrás da Austrália e dos EUA.
Apesar de a raça mais utilizada
no país, a nelore, estar bem adaptada, o criador tem de gastar muito com insumos, como carrapaticidas. A descoberta de genes ligados à resistência a parasitas poderia economizar milhões de reais.
"A criação de gado no país tem
vários gargalos a serem superados", afirma o presidente da Central Bela Vista, Jovelino Mineiro.
Os 20 laboratórios envolvidos
no projeto representam aproximadamente um terço da rede estadual de sequenciamento Onsa
(sigla em inglês para Organização
para Sequenciamento e Análise
de Nucleotídeos).
A rede foi criada em 1997 para
realizar o primeiro sequenciamento de um organismo no Brasil, o da bactéria Xylella fastidiosa, causadora da doença do amarelinho nos laranjais. O artigo
científico descrevendo a sequência, a primeira de um parasita de
plantas, foi publicado na revista
científica britânica "Nature" em
13 de julho de 2000.
Em seguida foram iniciados outros projetos de sequenciamento
e a análise funcional do genoma
da Xylella. Até agora, eles não resultaram em nenhum produto
novo para o mercado.
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