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PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS
Após mais de um ano parado, periódico da Sociedade Brasileira de Genética volta a circular
Genoma da cana resgata revista brasileira
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A pesquisa genômica acaba de
encontrar uma aplicação efetivamente prática: resgatar a mais importante revista científica brasileira do limbo em que se encontrava
havia mais de um ano.
Com uma edição temática dedicada ao projeto Genoma Cana-de-Açúcar, a "Genetics and Molecular Biology" voltou a circular no
fim de maio, pela primeira vez
desde dezembro de 2000. É a primeira edição sob o novo comando da revista, que desde março é
chefiada por Fábio de Melo Sene,
da Universidade de São Paulo.
A revista estava mergulhada em
uma disputa interna pelo poder
dentro da entidade que a sustenta,
a Sociedade Brasileira de Genética. O editor da revista desde sua
fundação, Francisco Alberto de
Moura Duarte, havia sido destituído em 2000. Duarte considerou
sua demissão irregular, pelos próprios regimentos da sociedade, e
foi à Justiça para se manter no cargo. Com isso, conseguiu permanecer como editor até o fim de seu
mandato, concluído em fevereiro.
Em conflito com a sociedade,
Duarte disse que, enquanto se
manteve como editor, não recebeu os recursos necessários para
manter a publicação. A sociedade
negou ter promovido qualquer
sonegação de verba ao editor. De
todo modo, em 2001, nenhum dos
quatro números previstos da revista foi publicado, conforme relatou a Folha em novembro.
O volume que sai agora corresponde aos quatro números que
não saíram em 2001, deixando à
revista apenas os atrasos relativos
a 2002. "Esse genoma da cana foi a
salvação da pátria", diz Sene.
Foi Paulo Arruda, o coordenador do projeto de decifração dos
genes da cana, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo),
quem procurou a revista para publicar o conjunto dos resultados
em uma edição especial.
"Nós queríamos produzir um
volume que contivesse de forma
mais abrangente os resultados do
genoma da cana. Então entramos
em contato com a revista da Sociedade Brasileira de Genética e
eles toparam", conta Arruda.
Sene foi procurado por Arruda
ainda no ano passado. Ao receber
o sinal verde, o coordenador do
projeto da Fapesp tocou todo o
trabalho de edição do material, o
que lhe valeu o crédito de "editor
convidado" na publicação.
"O material chegou para nós
oficialmente em março e já estava
praticamente pronto", diz Sene.
"Toda a parte de editoração foi
feita pelo Paulo Arruda, o que agilizou muito para que tirássemos
rapidamente o atraso de 2001."
Apagando o incêndio
Com a publicação do volume de
2001, o pessoal da "Genetics and
Molecular Biology" pode respirar
mais aliviado. Depois de estar parada por mais de um ano, a revista
poderia ter entrado em um buraco de onde seria difícil tirá-la.
O termômetro que mede o prestígio de uma publicação científica
é a sua presença ou não no cadastro de institutos que listam revistas e acompanham o quanto seus
artigos são citados por outros
cientistas. O mais importante deles é o ISI (Institute for Scientific
Information), dos EUA.
Só que o ISI exige, para listar a
revista, que a periodicidade seja
respeitada. Com mais de um ano
sem soltar um único exemplar, a
"Genetics and Molecular Biology"
estava correndo sério risco de
descarte. Isso não aconteceu.
"Fico feliz em informar que o
ISI não deixou a "Genetics and
Molecular Biology", apesar de não
ter sido publicada por um ano",
diz Rodney Yancey, gerente corporativo de comunicação do instituto americano. Pelos últimos
dados do ISI, de 2000, o ranking
da revista não era dos mais animadores. Na área de genética e
hereditariedade, ela ficou em 105º
lugar, de um total de 114 revistas.
Mas, segundo Sene, ainda há
muito o que fazer antes de se
preocupar com a elevação da qualidade ou de sua posição no ranking. "Nós nos preocupamos com
tudo isso, mas a prioridade agora
é colocar a revista em dia."
Segundo o editor, a equipe já está concluindo o trabalho na primeira edição de 2002. Mas a periodicidade normal só deve ser
restabelecida em setembro. "E a
revista só vai começar mesmo a
ter a nossa cara a partir de 2003",
afirma Sene. "Por enquanto, ainda estamos apagando incêndio."
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