São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS

Após mais de um ano parado, periódico da Sociedade Brasileira de Genética volta a circular

Genoma da cana resgata revista brasileira

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A pesquisa genômica acaba de encontrar uma aplicação efetivamente prática: resgatar a mais importante revista científica brasileira do limbo em que se encontrava havia mais de um ano.
Com uma edição temática dedicada ao projeto Genoma Cana-de-Açúcar, a "Genetics and Molecular Biology" voltou a circular no fim de maio, pela primeira vez desde dezembro de 2000. É a primeira edição sob o novo comando da revista, que desde março é chefiada por Fábio de Melo Sene, da Universidade de São Paulo.
A revista estava mergulhada em uma disputa interna pelo poder dentro da entidade que a sustenta, a Sociedade Brasileira de Genética. O editor da revista desde sua fundação, Francisco Alberto de Moura Duarte, havia sido destituído em 2000. Duarte considerou sua demissão irregular, pelos próprios regimentos da sociedade, e foi à Justiça para se manter no cargo. Com isso, conseguiu permanecer como editor até o fim de seu mandato, concluído em fevereiro.
Em conflito com a sociedade, Duarte disse que, enquanto se manteve como editor, não recebeu os recursos necessários para manter a publicação. A sociedade negou ter promovido qualquer sonegação de verba ao editor. De todo modo, em 2001, nenhum dos quatro números previstos da revista foi publicado, conforme relatou a Folha em novembro.
O volume que sai agora corresponde aos quatro números que não saíram em 2001, deixando à revista apenas os atrasos relativos a 2002. "Esse genoma da cana foi a salvação da pátria", diz Sene.
Foi Paulo Arruda, o coordenador do projeto de decifração dos genes da cana, financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), quem procurou a revista para publicar o conjunto dos resultados em uma edição especial.
"Nós queríamos produzir um volume que contivesse de forma mais abrangente os resultados do genoma da cana. Então entramos em contato com a revista da Sociedade Brasileira de Genética e eles toparam", conta Arruda.
Sene foi procurado por Arruda ainda no ano passado. Ao receber o sinal verde, o coordenador do projeto da Fapesp tocou todo o trabalho de edição do material, o que lhe valeu o crédito de "editor convidado" na publicação.
"O material chegou para nós oficialmente em março e já estava praticamente pronto", diz Sene. "Toda a parte de editoração foi feita pelo Paulo Arruda, o que agilizou muito para que tirássemos rapidamente o atraso de 2001."

Apagando o incêndio
Com a publicação do volume de 2001, o pessoal da "Genetics and Molecular Biology" pode respirar mais aliviado. Depois de estar parada por mais de um ano, a revista poderia ter entrado em um buraco de onde seria difícil tirá-la.
O termômetro que mede o prestígio de uma publicação científica é a sua presença ou não no cadastro de institutos que listam revistas e acompanham o quanto seus artigos são citados por outros cientistas. O mais importante deles é o ISI (Institute for Scientific Information), dos EUA.
Só que o ISI exige, para listar a revista, que a periodicidade seja respeitada. Com mais de um ano sem soltar um único exemplar, a "Genetics and Molecular Biology" estava correndo sério risco de descarte. Isso não aconteceu.
"Fico feliz em informar que o ISI não deixou a "Genetics and Molecular Biology", apesar de não ter sido publicada por um ano", diz Rodney Yancey, gerente corporativo de comunicação do instituto americano. Pelos últimos dados do ISI, de 2000, o ranking da revista não era dos mais animadores. Na área de genética e hereditariedade, ela ficou em 105º lugar, de um total de 114 revistas.
Mas, segundo Sene, ainda há muito o que fazer antes de se preocupar com a elevação da qualidade ou de sua posição no ranking. "Nós nos preocupamos com tudo isso, mas a prioridade agora é colocar a revista em dia."
Segundo o editor, a equipe já está concluindo o trabalho na primeira edição de 2002. Mas a periodicidade normal só deve ser restabelecida em setembro. "E a revista só vai começar mesmo a ter a nossa cara a partir de 2003", afirma Sene. "Por enquanto, ainda estamos apagando incêndio."



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