DA REPORTAGEM LOCAL

O último volume da "Genetics and Molecular Biology" podia muito bem tomar emprestado um título de Woody Allen: "Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre o Genoma da Cana, Mas Tinha Medo de Perguntar".
"É um conteúdo bastante abrangente", afirma Paulo Arruda, coordenador do projeto de sequenciamento. "Contém desde pesquisas sobre resistência a pragas e tolerância a alumínio, que têm potencial de aplicação, até dados sobre genes ligados, por exemplo, ao ciclo celular, cujo interesse é em pesquisa básica", diz.
No total, são 37 artigos, todos vindos de grupos brasileiros.
O trabalho feito com a cana-de-açúcar, na verdade, não apresenta o genoma completo, mas um transcriptoma. Esse nome complicado é como os geneticistas designam o grupo de genes que estão efetivamente ativos na planta.
Em vez de "ler", letra por letra, o DNA completo do organismo (como foi feito com o genoma humano), a metodologia envolve decodificar apenas as letras que fazem parte de algum gene que está efetivamente sendo usado para a fabricação de proteínas.
O projeto da Fapesp construiu uma base de dados contendo cerca de 238 mil trechos de genes (conhecidos pela sigla EST, de Expressed Sequenced Tags), que, quando combinados adequadamente, representam 43 mil genes (desses, cerca de um terço tem todas as suas letras identificadas).
A edição dos 37 artigos na "Genetics and Molecular Biology" já foi uma grande realização. "Nunca foi feito um trabalho assim em uma revista nacional", diz Arruda. No entanto, para o genoma da cana, ela é só o começo de um ciclo de publicações.
"Os trabalhos voltados para as revistas de alto impacto [que são muito lidas e citadas, como "Nature", sua derivada "Nature Genetics", "Science" e "PNAS"] ainda estão em produção", conta Arruda. "Pretendemos fechar este ano com 60 artigos publicados." (SN)


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