São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2004

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ASTRONOMIA

Norte-americano usa dados de antigas sondas soviéticas para obter imagens mais precisas do solo do planeta

Físico "remasteriza" paisagem venusiana

Divulgação/Don P. Mitchell
Imagem colorida ligeiramente melhorada da sonda Venera-13 mostra detalhes da escaldante superfície venusiana

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre 1961 e 1983, a ex-União Soviética enviou 16 missões sob o programa Venera, com destino ao planeta Vênus. Várias delas foram bem-sucedidas no esforço de fazer um pouso suave naquele mundo e enviar imagens de sua superfície escaldante. As imagens foram divulgadas há décadas, mas agora devem ganhar um relançamento digno de nota. Vêm aí as versões "remasterizadas".
Elas prometem não só oferecer uma visão mais acurada do solo venusiano, mas possivelmente ajudar a decifrar alguns de seus mistérios científicos.
O trabalho é obra do físico americano Don Mitchell. Ele já trabalhou no Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) para Ed Stone, o líder das famosas missões Voyager americanas, e depois desenvolveu aplicações em processamento de imagens e gráficos nos Bell Labs, na Universidade de Princeton e na Microsoft. Aos 48 anos, aposentado, decidiu atacar os dados das Veneras e espremer o sumo que ainda restava.
"Eu fiquei curioso sobre a superfície de Vênus e, quando comecei a pesquisar as imagens das Veneras, percebi que os dados tinham qualidade muito melhor do que muitas fotos que eu tinha visto publicadas", conta Mitchell.
"Descobri os dados originais da Venera-9 e da 10 em um conjunto de fitas trocado anos atrás entre a Universidade Brown e o Instituto de Pesquisas Espaciais Soviético. Os dados da Venera-13 e da 14 foram enviados recentemente a mim por cientistas em Moscou."
As missões voaram numa época em que os soviéticos enviavam coisas ao espaço aos pares, para garantir uma margem maior de sucesso. As sondas Venera-9 e 10 foram a Vênus em 1975 e se tornaram as primeiras a enviar fotos direto da superfície. Já as Venera-13 e 14, de 1981, enviaram as primeiras imagens coloridas.
Em ambos os casos, nenhuma das sondas permaneceu operando por muito mais de duas horas. A pressão atmosférica violentíssima (cerca de 90 vezes a terrestre), a temperatura borbulhante (450C) e o ambiente extremamente ácido no solo venusiano tornavam o trabalho difícil para os engenhos soviéticos.
Mitchell já concluiu o trabalho com as imagens das Venera-9 e 10. Está agora trabalhando nos dados da Venera-13 e pretende publicar os resultados assim que concluir, restaurando parte do prestígio dessa série de sondas concebida pelos russos.
"Muitas dessas imagens foram publicadas antes apenas de forma extremamente degradada, dando a falsa impressão de que a Venera era tecnicamente primitiva", diz.
Além de melhorar a percepção que cientistas e leigos têm de qual é a visão de quem se posta na superfície venusiana, Mitchell também tem a esperança de que suas melhorias permitam novas descobertas sobre esse mundo.
"Eu acho que algo novo poderá ser aprendido com um tratamento e um ajuste de cores mais acurados das imagens da Venera-13", afirma o pesquisador. "Por exemplo, o estado de oxidação das rochas na superfície -elas são hematita ou magnetita?"


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